SEBASTIÃO NERY -
Ele
entrou no gabinete do senador Edson Lobão, jornalista e maranhense como
ele. O senador o apresentou a um senhor sentado ao lado que, ao
ouvir-lhe o nome, se surpreendeu :
- Mas Mauritono Meira é o nome da minha rua!
Era
o prefeito de sua terra, Mirador, pequena cidade do Maranhão, onde
Mauritonio nasceu em 1930. O prefeito, cidadão simples, continuava
surpreso de conhecer o homem que deu o nome à principal rua de sua
cidade:
- Puxa, vida! O senhor é tão moço! Eu pensei que o senhor já tivesse morrido há muito tempo.
Mauritonio
Meira foi sempre tocado por algumas pequenas e enormes alegrias, como o
reveillon que passava todo ano em Paris e ser nome da ruazinha de sua
pequena Mirador, lá no interior do Maranhão.
MAURITONIO
Aos
16 anos, saiu de lá e foi estudar e trabalhar em Recife. Com 18 anos,
já publicava crônicas e contos nos grandes jornais. Com 23 anos, em 53,
Samuel Wainer o trouxe para a Ultima Hora, no Rio, onde foi tudo:de
repórter policial a colunista diário, repórter internacional, chefe de
redação, diretor.
Saiu
para o Jornal do Brasil, onde fez coluna diária e dirigiu o jornalismo
da Rádio JB. Repórter das revistas “O Cruzeiro” e “Time”, foi
editor-chefe do Diário Carioca e, desde 78, editou sua “Revista
Nacional”.
Muito
cedo, seu primeiro livro, novela e contos, “Passagem Para o Amanhã” (da
Martins Editora), calorosamente saudado por Manuel Bandeira, Raquel de
Queiroz, Jorge Amado, Adonias Filho, Antonio Houaiss, Antonio Olinto,
Eduardo Portella, Antonio Carlos Vilaça, fez muito sucesso, ganhando o
premio do Instituto Nacional do Livro, maior láurea literária da época.
ADAUTO
Brilhante
contador de historias, o ultimo livro dele, “Historias Alegres do Povo
Brasileiro”, é um testemunho bem humorado da política, da literatura, da
imprensa, da propaganda, que intensamente viveu, ou com que conviveu,
durante mais de meio século, desde Pernambuco, sobretudo no Rio. Contou
historias muitas dos políticos que acompanhou durante meio século.
Almoço
numa churrascaria de Brasília: Adauto Lucio Cardoso (UDN), Abelardo
Jurema (PSD), Doutel de Andrade, Guilherme Machado e Ernani Satiro
(UDN). Outro deputado começou a traçar um retrato muito critico do
ex-ministro da Guerra e ex-presidente marechal Dutra : burro, sargentão,
etc.
Adauto Cardoso ouvia pacientemente, interrompeu:
-
Meu amigo, ele é tudo isso que o senhor está dizendo? Bendita burrice.
Ele foi presidente da República. E nós, inteligentes, competentes,
gênios, não fomos e não seremos.
TANCREDO
Tancredo
Neves, do PSD mineiro, era primeiro-ministro, em 62, no governo
parlamentarista de João Goulart. Convidou Mauritonio para almoçar no dia
seguinte com ele, na casa dele. De manhã, ante de ir para o almoço,
Mauritonio passou pela Câmara e assistiu a um violento discurso do
deputado Padre Vidigal, do PSD de Minas, contra o primeiro ministro
Tancredo Neves.
Saiu dali, foi para a casa de Tancredo. Quando tocou a campainha, quem abriu a porta foi o Padre Vidigal:
- Mas, deputado, o senhor aqui? Meia hora atrás, o senhor dava um terrível banho de criticas no Tancredo.
-
Você ainda vai ter que aprender muito aqui em Brasília. Nenhum mineiro
resiste a um convite, seja de quem for, para comer frango com quiabo.
Os três comeram juntos o frango com quiabo.
A TOMADA
Henri
Ford II, presidente da Ford, vinha ao Brasil para uma grande festa da
empresa, em São Paulo. O presidente da Ford brasileira, Eugene Knutsen,
convocou a agencia Thompson, dona da conta, consultou publicitários
amigos de outras agencias, como Mauro Salles, e até trouxe dos Estados
Unidos dois engenheiros eletrônicos para prepararem toda a parafernália
de som.
Microfone,
alto-falantes, caixas de som, instalaram tudo em dobro. Se um pifasse, o
outro estava ali pronto para substituir. Meia hora antes, checaram
tudo. Tudo OK, inclusive o discurso de mister Ford, que, para fazer
charme, começava com uma simpática frase em português.
Falaram
todos os oradores, Eugene Knutsen, autoridades brasileiras. Tudo saiu
perfeito. Mister Ford pegou o microfone para falar e encerrar:
- Meus amigos, eu me sinto muito feliz...
Pifou
todo o sistema de som. Silencio absoluto. Mister Ford perplexo.
Corre-corre,publicitários e engenheiros desesperados,tentando ligar o
segundo sistema, sobressalente, e nada. Tudo estava em dobro. Menos a
tomada.
A ELEIÇÃO
Em
Paris, no reveillon de 91, Mauritonio estava desanimado com 92. Não ia
haver eleição e não era mais o primeiro ano do governo:
- No Brasil só presta ano de eleição ou primeiro ano de governo. No ano
da eleição, fazem alguma coisa para ganharem o voto.No primeiro ano,
também fazem alguma coisa porque ainda não esqueceram o que prometeram.
A partir daí, esquecem tudo e ainda não sabem em que mentir de novo.
Publicado em 2006.
Publicado em 2006.