Via 247 -
A reviravolta na eleição paulista, que ameaça a continuidade do ciclo de
20 anos de poder do PSDB, teve como protagonista o ex-governador José
Serra; na noite de ontem, ele foi ao apartamento do ex-prefeito Gilberto
Kassab, cobrou lealdade e exigiu para si a vaga de candidato ao Senado
na coligação PSDB-PSD que estava sendo articulada pelo governador
Geraldo Alckmin; surpreendido, Kassab toureou Serra até as primeiras
horas da madrugada; hoje, anunciou a coligação de seu partido com o
PMDB; Henrique Meirelles será o candidato a senador; para irritação dos
tucanos envolvidos no lançamento das pontes ao PSD, Serra saiu do radar e
seu celular passou a dar caixa postal; conheça os bastidores da trama
que fortalece Paulo Skaf, dono, agora, do maior tempo de TV em São Paulo.
Uma conversa dura, que adentou na
madrugada de hoje, com cobranças de lealdade e imposições por parte do
ex-governador José Serra, ocorreu no apartamento do ex-prefeito Gilberto
Kassab, nos Jardins. Presidente do PSD que, àquela altura, ainda vinha
mantendo conversas avançadas com o governador Geraldo Alckmin para uma
coligação com o PSDB, ele foi posto contra a parede por Serra. O
resultado foi uma surpreendente aliança entre PSD e PMDB, que dá ao
candidato Paulo Skaf a maior fatia do tempo de televisão em São Paulo -
mais de sete minutos, contra cinco do atual governador, que concorre à
reeleição.
Na noite de ontem, Serra exigiu que
Kassab levasse o PSD a aliar-se com os tucanos, mas sem ocupar a vaga de
candidato a senador oferecida por Alckmin ao próprio Kassab. "A vaga é
minha", teria dito Serra, na versão que corre entre os políticos cientes
do quiproquó.
Na manhã desta sexta-feira 27, ainda
com as palavras duras de Serra reverberando em sua memória, Kassab
comandou uma articulação relâmpago. Mas completamente diversa da que
vinha trilhando.
Depois de contatos com o
vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente do Banco Central Henrique
Meirelles e o presidente licenciado da Fiesp Paulo Skaf, Kassab foi
rápido em anunciar que a convenção do PSD, amanhã, vai aclamar a
coligação do partido com o PMDB. Num gesto dirigido diretamente contra
Serra, nas circunstâncias, sinalizou que o candidato a senador do novo
time será Meirelles.
O governador Geraldo Alckmin, ao
saber da ira que Serra havia despertado em Kassab, tentou interferir ao
longo de todo o dia. Seu plano contemplava Serra como vice na chapa de
Aécio Neves para presidente. O governador paulista estava disposto a
insistir com o senador mineiro sobre essa acomodação, mas percebeu na
noite da terça-feira 24, quando Aécio deu o bolo na noite de autógrafos
de Serra em seu livro "50 Anos Esta Noite", que a missão seria bem
difícil. Ainda assim, continuava disposto a operar politicamente para
devolver Serra para a esfera nacional. Alckmin procurou falar com Serra,
ao menos para ter a versão dele sobre como fora a conversa com Kassab. O
ex-governador, no entanto, não foi localizado por nenhum dos radares
dos tucanos, não atendendo telefonemas. O sumiço dele depois da noite
tormentosa com Kassab irritou também a Alckmin.
Todo esforço do governador paulista,
como noticiou 247, para atrair o PSD para sua coligação tinha, também, o
sentido de não fortalecer o candidato do PMDB. Paulo Skaf é o mais
próximo perseguidor de Alckmin nas pesquisas, e o que está em melhores
condições, com 21% no Datafolha, de atrapalhar seus planos de vencer em
primeiro turno. Agora, além desses percentuais, ele passa a ter o maior
tempo de televisão.
Tudo o que Alckmin não queria era
perder a chance de contar com o PSD e ter Kassab em seu campo.
Atropelando os fatos, interessado acima de tudo em concorrer ao Senado –
privilégio que Alckmin gostaria de ter dado a Kassab -, Serra, ao
entrar no apartamento do ex-prefeito, se encarregou de explodir as
pontes lançadas por Alckmin. Ele exigiu de seu antigo vice uma
fidelidade que, como demonstrou o fundador do PSD, ele não acredita
dever.
Curiosamente, dias atrás, Serra afirmou que iria se dedicar a "não atrapalhar o PSDB". Atrapalhou, e muito.