1.8.16

ALIANÇA PELO BRASIL, O QUE É ISSO?

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


É inevitável que, no contexto político atual, tentem impingir à Aliança pelo Brasil rótulos ideológicos. Isso, para alguns, é uma fórmula simples a fim de evitar a reflexão sobre objetivos concretos. Para a direita, é fácil descartar uma proposta quando é rotulada de esquerda. Para a esquerda, é igualmente fácil rotular e menosprezar como de direita alguma proposta eventualmente positiva dela que leve, porém, esse carimbo. Por debaixo desses rótulos há uma sociedade viva, que persegue seus interesses sem nenhuma necessidade de carimbos ideológicos. Esclareça-se desde já que não somos uma mistura amorfa de esquerda e de direita. Temos lado: somos defensores radicais da Justiça Social.

Se houver necessidade de outra classificação, queremos simplesmente resgatar os princípios clássicos da Revolução Francesa: liberdade, igualdade de direitos, e fraternidade. É que os conceitos de esquerda e de direita em tempos contemporâneos, principalmente depois do fim da União Soviética, contribuem mais para confundir do que para esclarecer. Preferimos estabelecer objetivos concretos a assumir posturas ideológicas ambíguas. Somos por uma política econômica radical de busca do pleno emprego. Somos por uma política fiscal-monetária radical de promoção do desenvolvimento e do bem-estar social.

No nosso entender, um Estado forte é indispensável à defesa do interesse nacional e das condições de vida dos mais fracos. Entendemos por isso um estado equipado com pessoal qualificado nas áreas estratégicas de saúde, educação, segurança, e com suficiente condição tributária para suportar as despesas correspondentes, com uma estrutura poderosa de bancos públicos para financiar o desenvolvimento e com empresas fortes para atuarem em setores estratégicos como de energia, água e comunicações. Enfim, com capacidade de planejamento estratégico. Terá de ser um Estado que, refletindo os desejos da sociedade, atue efetivamente no sentido de apresentar à aprovação do povo um projeto consistente de destino nacional.
Para se alcançar esse nível de Estado, espinha dorsal do desenvolvimento econômico e da conquista de estágios superiores de bem-estar social, é fundamental alcançar o poder político. Contudo, num contexto de total derretimento das instituições republicanas, no qual os partidos individualmente e o sistema partidário como um todo perderam totalmente a credibilidade perante o povo, temos de inventar formas de atuação política que ocupem o vácuo por eles deixado. A Aliança pelo Brasil é justamente isso: uma entidade política que, provisoriamente, até a recuperação da credibilidade do sistema partidário, se propõe atuar pela defesa dos interesses fundamentais da sociedade brasileira.

É um objetivo pretensioso? É sim. Acontece que não há alternativa. Aponte uma. É claro que não somos ingênuos ao ponto de acharmos que a regeneração do sistema econômico e do sistema político-partidário brasileiro é uma tarefa simples. Contudo, não nos acomodamos à ideia de que não há saída. Sabemos perfeitamente que, no curto prazo, seremos derrotados: com a composição atual da Câmara e as flutuações do Senado, perderemos todos os projetos relevantes. De qualquer modo, usaremos o que resta de nosso poder moral para inibirmos os parlamentares de forma a tomarem a direção correta. E, no momento certo, iremos às ruas. Tentaremos fazer isso preparando-nos, e ao povo, para 2018, onde a partida decisiva será ganha ou perdida.

Taticamente, na medida em que a Câmara despeje seu lixo político antipovo para a Câmara Alta, tentaremos liquidá-lo no Senado, onde há um número menor de parlamentares e com um pouco mais de responsabilidade. Com alguma sorte, poderemos anular as iniciativas mais regressiva e antinacionais da maioria dos deputados, sobretudo nos campos da saúde, da educação e da estruturação orçamentária, mediante ação saneadora de senadores moderados, porém progressistas. É o que nos cabe fazer agora. No mais, é nos prepararmos para o grande embate eleitoral em 2018, que a Aliança pelo Brasil, com outras entidades progressistas, pretende preparar, como dito acima, mediante um grande movimento de massas.

Fora do Congresso estaremos difundindo em todo o país o curso sobre Mais Valia Social, com o conceito de que são os trabalhadores, produtores de mais valia, que financiam de forma concreta as políticas públicas mediante impostos que devem recair principalmente sobre renda e riqueza dos ricos e afortunados e beneficiar sobretudo os próprios trabalhadores como renda indireta. Assim, aos trabalhadores compete lutar não apenas pela mais valia individual, no chão de fábrica, mas também pela Mais Valia Social, no plano político mais amplo, neste caso favorecendo toda a sociedade através sobretudo de ação enquanto cidadãos livres numa democracia que deve ser disputada diariamente, e no futuro próximo, com os controladores do poder midiático e da riqueza.

*Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ.