23.4.16

MACONHA, DITADURA, JOGO DO BICHO E GOLPE

ANDRÉ BARROS -

O que o impeachment, a ditadura, o jogo do bicho e a guerra às drogas têm em comum? Tudo! Todas estas ações durante a história do Brasil foram patrocinadas e orquestradas pelas mesmas figuras de poder. E as vítimas continuam sendo as mesmas: negros, pobres, favelados. Entenda mais sobre a questão.


No último domingo de horror, onde vimos centenas de patéticos deputados votando em nome da família, um mostrou bem a cara de golpe desse impeachment. O Deputado Federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro votou a favor da destituição da Presidenta, que foi torturada e presa durante três anos na ditadura militar, homenageando o terrível torturador Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

O Coronel do exército, também conhecido como Doutor Tibiriçá, foi comandante do DOI (Destacamento de Operações de Informações), também conhecido como DOI-CODI, de 1970 a 1973. O aparelho de repressão, criado em 1969, pertencia ao 2º Exército, mas era oriundo da OBAN (Operação Bandeirante), coordenada pelo exército e financiada por empresário brasileiros e estrangeiros para exterminar a guerrilha contra a ditadura militar no Brasil, torturando, matando e desaparecendo com centenas de jovens. O aparelho de repressão criado pela ditadura era civil-militar, juntando oficiais do exército, policiais e médicos, uma estrutura autônoma com ampla blindagem civil e militar, acobertada por banqueiros, empresários, redes de TV, rádios e jornais impressos, Ministério Público e Poder Judiciário, históricos donos do poder. Os agentes desses aparelhos de repressão eram tratados como civis e militares, assim como o Coronel Ustra, que também era chamado de Doutor Tibiriçá. Sem existir uma ordem escrita de tortura, denúncias confirmam em torno de 400 pessoas torturadas sob o comando de Ustra. E outras centenas de mortos e desaparecidos durante seus 4 anos no comando do DOI, também conhecido como “açougue”.

DOI’s e seus agentes torturadores se espalharam pelo país, levando suas atrocidades a outros negócios sustentados na violência e ilegalidade. O lendário jogo do bicho, que nasceu para salvar um jardim zoológico de Vila Isabel, Rio de Janeiro, foi colocado na ilegalidade em 1941. Em 1970, agentes da repressão entraram nesse jogo e patrocinaram assassinatos e tomadas de pontos do bicho, levando tudo que aprenderam nas escolas de tortura patrocinadas pelo capital. Na ilegalidade, o jogo era vencido pelo monopólio da violência com os ensinamentos dos aparatos da repressão.

O mesmo aconteceu com a planta da paz. A maconha era vendida de forma artesanal nas bocas de fumo em pequenas quantidades embrulhadas em folhas de jornal. A ilegalidade em que caiu nos anos 30 do século XX também fez com que a disputa desses pequenos pontos de comércio fosse realizada à bala. Agentes da repressão entraram nesse negócio. O BOPE (Batalhão de Operações Especiais) foi idealizado e estruturado por agentes da repressão e hoje patrocina a farsa da guerra às drogas. Patrocinada por milionários capitalistas, que monopolizam a venda de toneladas de maconha e cocaína, essa guerra coloca policiais jovens, negros e pobres trocando tiros com pequenos soldados do tráfico. Agentes da repressão foram parar nessa guerra aos pobres, vendendo armas e corrompendo todo o sistema penal, infiltrando-se por todos os lados dessa farsa, que faz da polícia do Rio de Janeiro a que mais morre e mata no Brasil. A ditadura, que removeu mais de cem mil moradores das favelas cariocas, agora espalhou seus agentes nessa guerra aos negros e pobres.

Sugiro, para quem quiser se aprofundar no tema, a leitura de “A Casa da Vovó” de Marcelo Godoy, “Os Porões da Contravenção” de Aloy Jupiara e Chico Otávio e “Gracias a La Vida – Memória de um Militante” de Cid Benjamim.

Os tempos podem ser outros, mas as mesmas pessoas e organizações que apoiaram o golpe militar de 1964, agora apoiam o impeachment. Os históricos donos do Brasil querem o poder de volta. Esse é o terrível cenário de golpe do século XXI que bate à nossa porta.