14.9.15

OS ENSINAMENTOS DE MUJICA

Por MÔNICA FRANCISCO - Via Mídia Informal -


A passagem de Mujica pelo Brasil, e em especial pelo anfiteatro da UERJ, passou quase despercebida, não fosse o expressivo número de presentes e a publicização pelas vias alternativas de mídia, que já vão se mostrando e consolidando não tão alternativas assim.

Nestes dias de discussão acirrada sobre a descriminalização das drogas, tendo a maconha como símbolo desta verdadeira guerra de nervos, um detalhe nisso tudo, não tem sido apresentado como, em minha opinião e a de muitas outras pessoas.

Trata-se da instabilidade cotidiana no que se refere a manutenção da vida entre os jovens e as jovens que vivem nas favelas, periferias e bairros pobres das cidades. Como ponto de reflexão, essa sem dúvida é uma questão merecedora de uma atenção apurada nesse sentido.

Temos uma juventude e uma sociedade de maneira mais geral, carente de ações, mais até do que pensamentos, que contemplem a realidade e a dimensão da vida na sua realidade mais essencial. E ouvir Mujica, para muitos daqueles e daquelas jovens que estiveram ali, era sinal de liberdade, autonomia,vanguarda, futuro, mudança, a sensação de que é possível mudar estruturas, enfim, que as utopias são possíveis e não podemos perdê-las.

Já para os jovens que vivem a realidade da morte repentina, da violência gratuita, do cerceamento de liberdades constitucionais e humanas, principalmente no que se refere à livre circulação ou até mesmo e muito recorrentemente, causada por condição bio-social. Quem são e onde moram, suas relações, sua constituição como indivíduo o faz justamente não ser, não tem protagonismo, nem na discussão sobre o assunto.

O que se pretende, e não é sobre isso que lanço minhas tintas, é dar mais tranquilidade àqueles que de certa maneira nunca souberam o que é não tê-la, ao utilizar a maconha ou qualquer outra droga lícita e ilícita. É possibilitar uma parcela da juventude e de adultos, das camadas médias de nossa sociedade, que nunca tiveram nenhum problema em tornar até exótico, o fato de se servirem de drogas em suas festas, e em quantidades nada ortodoxas.

O fato é que descriminalizar deveria ter como tema precípuo de debate a manutenção da vida dos jovens e das jovens pobres. Das milhares de pessoas que vêm perdendo sua vida, como efeito colateral de uma guerra sem sentido.

Que a decisão, caso favorável, não venha se traduzir em uma conquista da classe dominante e seus pares. Que ela se traduza na prática em uma mudança de comportamento em relação aos negros, negras, pobres, que compõem as mais tenebrosas e vergonhosas estatísticas.

"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!"