1.7.14

MARCHA SILENCIOSA

Via Mídia Independente Coletiva -
 
No último ano o Brasil reagiu aos desmandos do Estado indo para as ruas. E esta reação se deu devido às atrocidades praticadas em nome dos mega-eventos que vieram à tona, principalmente nas cidades-sede da Copa do Mundo.

No Rio de Janeiro as atrocidades são ainda maiores porque a cidade conta com o peso e a pressão extras de sediar as Olimpíadas.

Quem está vivo reage, se incomoda e se posiciona. Esta é a maior motivação de quem está nas ruas: ser visto, ouvido e compreendido.

As manifestações são absolutamente legítimas, sendo um direito básico em nosso país. Mas o que estamos vendo desde junho de 2013 é um Estado completamente autoritário e repressor que não permite o questionamento, como se o Brasil fosse um país sem profundos problemas sociais.

Neste contexto, os manifestantes são tratados como criminosos, vândalos, formadores de motins e daí pra baixo com excessiva repressão policial. O Estado, amparado pelas mídias corporativas, tenta criminalizar todos os movimentos populares, rasgando a nossa constituição.

Sabemos que a FIFA, os banqueiros, os grandes negócios e o grande capital pesam muito nesta repressão do Estado, afinal a Copa do Mundo precisa acontecer e ela já está aí com força total. É inegável que há muitos brasileiros e estrangeiros torcendo pelas suas seleções, o que é legítimo. Mas que fique claro que quem está nas ruas não é contra o futebol, não é este o foco dos atos e nunca foi.

Quem está nas ruas quer um Brasil melhor, quer saúde, educação, transporte e cultura de qualidade. Quem está nas ruas quer mudança e para melhor, quer o Direito à Cidade.. O que se questiona aqui, nas ruas, é a real importância de um evento bilionário num país que ainda conta com tanta desigualdade social.

O povo vai assistir à Copa da televisão em casa. Logo, para a grande maioria da população pobre e excluída de tudo e dos estádios, tanto faz a Copa ser aqui ou em qualquer outro lugar do planeta.

Nos últimos anos, o que estamos vendo no Rio de Janeiro em termos de preparação para a Copa, se resume à um projeto de pacificação armada chamada UPP, que contribui para o genocídio dos jovens negros e favelados; processos contínuos de remoção de comunidades inteiras e a tal faxina social que remove os moradores de rua para abrigos sem projeto social algum.

O que estamos notando é que o Legado da Copa da FIFA se pauta na exclusão dos pobres da vida e permanência na cidade. Gentrificação e genocídio jamais serão uma boa combinação.

Estamos nas ruas exigindo o mínimo que o governo deveria fazer pela sociedade e que só não o faz por estar preocupado demais em atender às necessidades do capital, dos empresários e atualmente à FIFA e seus patrocinadores da Copa.

Por isso estaremos nas ruas em SILÊNCIO e contamos com a participação de todos os movimentos, militantes e ativistas nesta luta pelo DIREITO À LIVRE MANIFESTAÇÃO.

"Silêncio é isto que nos é imposto com violência dura demais para um regime que se diz democrático. Nas comunidades, no interior, vozes que querem da vida muito mais do que cerveja e futebol. É pelo Amarildo, pela Cláudia, pelo DG, pelo Rafael Braga e todos os manifestantes presos e pelas vidas que são tiradas injustamente em tantos lugares; por duzentos e cinquenta mil pessoas removidas em nome dos Jogos; pelas pessoas que estão agora nas filas dos hospitais e pelas que não podem pagar pelos preços absurdos da especulação imobiliária. A não-violência não é passividade. Não é ficar calado frente a injustiça. É por liberdade e por um outro tipo de cidade, de Brasil e de mundo que o nosso silêncio grita."


*Texto de Paula Kossatz.