9.10.16

POESIAS: RECURSO EXTREMO; DILEMA

MARCELO MÁRIO DE MELO -


RECURSO EXTREMO
Cortar os pulsos 

não me atrai 
por torturante
indiscreto 
anti-higiênico
muito menos 
a maiacoviskiana bala 
na cabeça.


E não estão em pauta 
as três dezenas de sonífero 
recurso reservado a incisos 
de parágrafos e artigos específicos
da desconstituição da vida.

Esbravejar 
dar socos na parede
quebrar coisas 
estancam
na partida dos cem metros rasos
ante uma onda gigante
que se quebra por dentro
cravando na alma os estilhaços
e arrastando as mãos 
a arrancar cabelos 
sinal à beira do abismo 
a que se atende
em fio de vida
raspando a cabeça em exorcismo.

Depois 
comum a réu sem culpa
acidentado
doente que comprova no exame 
o horizonte do ponto final.
o sentimento inútil
do não merecido


***

DILEMA
[Motivado por um comentário de Raquel Bormann no facebook]

Foi caçar a esperança
mas ela já fulminada
restava só cinza fria
em abandono na estrada.

Por instinto assassino
o deleite de matar
empenhou-se aí então
em vê-la ressuscitar.

E agigantou-se o dilema
em cruz de interrogação
com a esperança atingindo
raias de ressurreição.

Quem detém o assassino?
Quem a pode socorrer?
Quais os caminhos possíveis
de ela sobreviver?

Ninguém conhece o desfecho
qual será a sua sorte:
se uma segunda vida 
se uma segunda morte.