Cortar os pulsos
não me atrai
por torturante
indiscreto
anti-higiênico
muito menos
a maiacoviskiana bala
na cabeça.
E não estão em pauta
as três dezenas de sonífero
recurso reservado a incisos
de parágrafos e artigos específicos
da desconstituição da vida.
Esbravejar
dar socos na parede
quebrar coisas
estancam
na partida dos cem metros rasos
ante uma onda gigante
que se quebra por dentro
cravando na alma os estilhaços
e arrastando as mãos
a arrancar cabelos
sinal à beira do abismo
a que se atende
em fio de vida
raspando a cabeça em exorcismo.
Depois
comum a réu sem culpa
acidentado
doente que comprova no exame
o horizonte do ponto final.
o sentimento inútil
do não merecido
***
DILEMA
[Motivado por um comentário de Raquel Bormann no facebook]
Foi caçar a esperança
mas ela já fulminada
restava só cinza fria
em abandono na estrada.
Por instinto assassino
o deleite de matar
empenhou-se aí então
em vê-la ressuscitar.
E agigantou-se o dilema
em cruz de interrogação
com a esperança atingindo
raias de ressurreição.
Quem detém o assassino?
Quem a pode socorrer?
Quais os caminhos possíveis
de ela sobreviver?
Ninguém conhece o desfecho
qual será a sua sorte:
se uma segunda vida
se uma segunda morte.