27.4.16

TEMER CONSEGUE SUPERAR CHICO BUARQUE, FORMA O GOVERNO QUE "VAI DAR MERDA"

HELIO FERNANDES -


O famoso compositor jamais imaginaria que o que ele criou individualmente, fosse plagiado coletivamente pelo quase futuro presidente interino. Chico Buarque, sempre criativo, inventou um ministério tão calamitoso, que previu e divulgou antecipadamente que "daria merda". (Como Temer não pagou royalties e multiplicou a idéia por 20 ou 30, não repetirei mais. O leitor entenderá).

O vice, na ânsia da sucessão e de conseguir base na Câmara, vai fazendo concessões suicidas do ponto de vista moral, ético, estético, dignidade, credibilidade, autenticidade e efetividade. Está tão desequilibrado e é tão desastrado, que vai formando seu governo (?) á imagem e semelhança do próprio que conspira para derrubar.

Da forma como age, conversa, convida e acredita que está bem perto da maioria, pelo menos na Câmara, não apresentará uma única inovação. Até o momento, todos os nomes falados, consultados ou ate convidados, foram Ministros de Dilma ou Lula. O que não é surpreendente.

“O desespero, a inquietação e a ansiedade de ser presidente, pelo menos interino”, não produzem nada de positivo. E o passado e o presente de Michel Temer, nenhuma decepção, tudo confirmação do que se esperava. Quanto a este repórter, o que já escrevi sobre o vice,tão visível, transformado em fatos.

Na semana que desembocaria na votação daquele horripilante domingo, entre muitas rigorosamente duvidosas, três posições inesquecíveis, que marcam indelevelmente sua presença na vida publica. 1-Foi á casa de Waldemar Costa Netto, cassado e condenado pelo mensalão. Pediu seu apoio, e em troca reservou 1 ou 2 ministérios, já confirmados. Um deles será o de Transportes. Não para ele, impedido, mas para quem indicar. Mesmo sem os direitos políticos, controla o partido, radiografia calamitosa da vida política do país.

2- Na quinta feira da semana funesta, recebeu Gilberto Kassab, ainda Ministro das Cidades. Confissão: "Vou pedir demissão agora, votarei a favor do impeachment".Temer agradeceu calorosamente, nem atentou para a traição.Fez questão de esquecer, que quando fundou o PSD, esse mesmo Kassab, declarou publicamente: "Não sou de esquerda, de centro ou de direita". Não tinha caráter, compreensível. Terá 2 ministérios para ele ou quem indicar.

3- Logo antes da votação dos 367, conversou ansiosa e acintosamente com deputados e "lideres" do PP, mais PSD e outros menores. È o ministério do Chico Buarque, sem evolução, sem emoção ou comoção. O que interessa: os números, mesmo que estejam errados. Com íntimos, pergunta ninguém responde: "Já estamos com mais de 300 votos?".

O efeito Meirelles

Recebeu o ex-presidente do BC (governo Lula), conversou duas horas e aos jornalistas: "Foi apenas conversa, não estou convidando ninguém". Não acreditei, publiquei com interrogação: o que fizeram em duas horas juntos. Logo, logo publiquei com 48 horas de antecedência, que Meirelles aceitara, mas exigira todos os cargos do entorno. Temer confirmou que aceitara as exigências. Só que isso provocou modificações no roteiro, ainda estão em andamento.

O senador Romero Jucá, que ia para a presidência do Senado, será Ministro do Planejamento para vigiar e controlar Meirelles, até nisso copia dona Dilma duas vezes. No primeiro mandato Barbosa para vigiar Mantega. No segundo, o mesmo Barbosa para substituir o da Fazenda. Substituiu, ninguém sabe o que faz. Para acertar o roteiro, falta se "reconciliar" com Renan Calheiros. Isso está a caminho. Mas não pode ser num encontro direto, primeiro os intermediários, depois o cara-a-cara. Afinal, não são amigos incondicionais, mas também não são "desamigos".

A catástrofe Temer, contraditoriamente a toda velocidade, não para o abismo. E sim para ver se consegue desacelerar do fundo, voltar á superfície, que pode ser, pelo menos para ele, sinônimo de Planalto. Para o vice, o triste fim de Isaías Caminha. Para Temer, nominalmente o próprio Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Espero que ele como paulista pelo menos começa a história.