ALCYR CAVALCANTI -
O ex-presidente e, mentor político, da presidente está
preocupado com os rumos de um governo que também é seu, e do qual depende
seu futuro político. O Governo Dilma está diante de mais um dilema, aumentar
impostos ou fazer cortes em programas sociais. O ministro Joaquim Levy quer
cortes imediatos e aumento de tributos, para tirar o país de um déficit de
bilhões, de contas que insistem em não sair do vermelho. Mas como cortar
gastos, se as "bases" pedem mais e mais dinheiro?. O dilema já era
esperado desde que acordos na calada da noite, em jantares regados a muita
champanhe foram feitos entre os que se diziam socialistas e os empresários que
orientam a economia do país. Vai ser mais uma contradição de difícil resolução,
visto que as classes populares e os movimentos sociais pareciam ser a base de
sustentação de um governo eleito graças a programas como o Bolsa Família, Minha
Casa Minha Vida, PAC, que trouxeram inúmeros benefícios para as Classes C e D.
Os acordos feitos para garantir a posse dos eleitos sempre
tem um preço, e as promessas estão sendo cobradas por aqueles que de fato detém
o poder, banqueiros, empresários, enfim os que detém o capital financeiro. Os
despossuídos vão continuar sem posse, sem moradia, sem trabalho, sem
aposentadoria, porque existe um complicador: o dinheiro que sobrou é muito
pouco, para manter as taxas de lucro de uma minoria, mas poderia ser suficiente
para os programas sociais, e serviria para aplacar a insatisfação de uma parte
significativa da população que começa a acreditar que mais uma vez foi enganada
e apenas serviu de massa de manobra.
O ex-presidente Lula, que apostou todas suas fichas na
presidente, tem ficado entre a decepção e o desespero diante da inabilidade de
uma pessoa de sua inteira confiança, eleita graças a ele, e que conseguiu
desmontar tudo ou quase tudo que foi conquistado a duras penas e com muito
sacrifício. Com índices de popularidade despencando, com menos de oito por
cento e perdendo apoio do "arco de alianças" conquistado a base do
favorecimento, da distribuição de cargos e dinheiro vivo, a presidente está
numa enrascada de difícil solução. Para aumentar as dificuldades existe uma
crise do capital em escala mundial, uma verdadeira globalização do desemprego,
da favelização, da dificuldade em pagar aqueles que deram sua força de trabalho
durante décadas e agora esperam pela retribuição dos governos para um descanso
em tranquilidade. Como estão sem forças para produzir estão sendo os primeiros
a terem seus benefícios cortados e suas aposentadorias minguarem ano após
ano, para cobrir um déficit que não foi feito por eles.
Nas grandes cidades o descontentamento chega ao limite, lojas
comerciais fecham as portas, as indústrias demitem ou dão férias coletivas, o
desemprego assusta, enquanto isso a violência tem aumentado
gradativamente, contrariando índices que insistem em tentar convencer que a
criminalidade tem diminuído, está sendo controlada. No caso específico da cidade
do Rio de Janeiro, um modelo de insegurança pode servir de análise para
toda a nação, embora haja características peculiares em cada região de nosso
imenso território. As unidades de pacificação foram implantadas nas favelas
consideradas "zonas vermelhas" com pouco ou nenhum resultado. Os
tiroteios continuam e as balas perdidas tem endereço certo, pessoas inocentes
que não tem nada a ver com a zona de conflito. São apenas moradores que pedem
que a promessa da pacificação seja cumprida.
O mês de agosto já foi, o mês da dificuldade já foi, passou o
período que tem sido pleno de tragédias políticas, mas que parece não ter fim.
O mês de agosto parece que vai continuar por muito tempo. Pelo menos no reino
do simulacro, em Brasília, e vai atingir a todos nós, infelizmente.