Por ALBERTO
DINES - Via Observatório da Imprensa -
Justifica-se
a preocupação da direção da “Folha” com a rápida deterioração da situação
político-econômica. Um jornal responsável – qualquer que seja o tamanho da
audiência, seu prestígio ou o acúmulo de vivências passadas – não pode
imaginar-se “líquido” (para usar o conceito de Zygmunt Bauman), desobrigado de
intervir naqueles momentos cruciais em que as circunstâncias deixam a esfera
secundária para tornarem-se vitais para todos, pacientes e agentes.
Diante
da inação e das perplexidades dos protagonistas políticos e econômicos
(acrescidos subitamente pela entrada em cena dos órgãos fiscalizadores
internacionais) impunha-se o acionamento do alarme para emergências.
Esgotado
o repertório habitual de advertências fazia-se necessário subir o tom e a
intensidade, algo mais forte, retumbante, de maior calibre: um editorial na
primeira página e de preferência num domingo.
O
comando do jornal não vacilou: sapecou-o no fim de semana seguinte ao
rebaixamento do país pela agencia de avaliação de riscos, Standard&Poor’s
(13/Setembro).
Exposto
com firmeza, sem meias palavras porém, firme. Sereno, mas não contemplativo, “A
última chance” tem a capacidade de sacudir o leitor, retirá-lo das turbulências
singulares e encaixá-lo na maré montante das desgraças nacionais.
O
jornal errou justamente no título. Os ilustres camaradas foram longe demais.
Esqueceram que jornalismo é um processo periódico, crescente, envolvente:
editoriais na primeira página não são prescritos para doses únicas. Integram um
encadeamento, fazem parte de uma escalada.
Ao
não compreender esta sutileza e na ânsia de intervir imediatamente na derrubada
de João Goulart, os editorialistas do poderoso “Correio da Manhã” dispararam
uma dupla de misseis arrasadores na primeira página com apenas um dia de
diferença.
O
“Basta” (31 de Março de 1964) e o “Fora” (de 1 de Abril) não foram precedidos
daquilo que na terminologia militar chama-se “salva de advertência”, Além
disso, entre os dois não houve intervalo suficiente para que o governo Jango
avaliasse seus erros e interrompesse a própria escalada iniciada no comício de
13 de Março.
Com
apenas dois berros seguidos e ambos com estridência máxima evidenciou-se o fato
consumado sem dar tempo aos não-radicais de ambos os lados para tentar uma
intervenção.
É
claro que as situações de 1964 e 2015 são rigorosamente diferentes. O atual
cronograma nada tem de militar, é político, econômico, institucional. Descabido
o “timing” castrense.
Em
situações de emergência cabe à imprensa o papel de poder moderador. Ao
contrário do que se diz no final do primeiro parágrafo, a administração Dilma
Roussef NÃO está por um fio, está
garantida por um fato concreto, sólido – o resultado das eleições até agora não
desmentidos, embora contestados.
O
adjetivo “última” do título é absolutamente
impróprio. Claramente provocador. Impressão reforçada pela edição da “Folha” no
dia seguinte (segunda, 14/9) que parecia ter sido produzida por outro jornal,
com outro padrão editorial, sobretudo outras premências.
Depois
da última chance, o que – caos?
Um
pluralzinho seria suficiente para esvaziar a abominável entonação de ultimato.
Ou simplesmente convocar o brilhante redator para repetir a dose nos próximos
dias/semanas/meses.