11.9.15

ABUSOS POLICIAIS EM MANIFESTAÇÕES CONTINUAM IMPUNES, APONTA RELATÓRIO

Por NADINE NASCIMENTO - Via Brasil de Fato -


A ONG internacional Artigo 19 fez um levantamento sobre a postura violenta do Estado no trato de manifestações de rua. Nos dados levantados em “As ruas sob ataque: protestos 2014 e 2015”, há uma análise geral sobre as violações cometidas pela polícia e a impunidade com que são tratadas, além da tentativa de criminalização dos protestos e a violência contra comunicadores nos atos de rua desde 2013.

Segundo o relatório, lançando nesta quinta-feira (10), com a experiência dos protestos de 2013, a polícia militar, em 2014 e 2015, mudou seus padrões de atuação através da aquisição de novos equipamentos e com a sofisticação de técnicas e táticas de repressão, além de passar a realizar ações de monitoramento de manifestantes. A falta de identificação dos policiais seria também uma prática recorrente nos atos, o que impediria a realização de denúncias em caso de abusos.

“O Estado teve muito tempo e muitas cobranças para revisar e mudar suas táticas no tratamento com as manifestações, ele não escolheu esse caminho, pelo contrário, de fato ele redesenhou sua estratégia institucional de repressão aos protestos e ainda aprimorou suas técnicas”, diz Camila Marques, integrante do Centro de Referência Legal da Artigo 19.

Há ainda um questionamento sobre a tentativa por parte do Estado de criminalizar os atos desde as Jornadas de Junho. Como no caso do Projeto de Lei nº 499/013, a Antiterrorismo, que com “seu texto muito aberto que não traz conceitos bem definidos, possibilitaria generalizações como o enquadramento de movimentos sociais como grupos terroristas – estratégia que já vem sendo utilizada em outros países para criminalizar esses movimentos”, diz o texto.

Existiria também uma “cultura de impunidade" construída quando, por exemplo, alguns comandantes policiais de ações de repressão abusivas em 2013 foram promovidos. Com isso, o Estado além de deixar de punir abusos, também passaria uma mensagem de valorização das violações.

“Quando autoridades constroem uma simbologia negativa de manifestantes por meio de pronunciamentos públicos, cria-se no imaginário social uma visão negativa sobre o direito de protesto. Isso igualmente acontece quando o Judiciário, além de não punir os responsáveis, responsabiliza vítimas de violações pela violência que sofreram”, segundo o relatório.

Comunicação

A hostilidade com os comunicadores é abordada, mas não só pelo ponto de vista da truculência policial, o texto procura lembrar o comportamento dos manifestantes que, muitas vezes, impossibilitaram os profissionais de realizarem seu trabalho. Para ilustrar isso, casos de comunicadores que sofreram algum tipo de violência são citados, como o do cinegrafista Santiago Andrade, que morreu após ser atingido por um rojão disparado por manifestantes no Rio de Janeiro, em 2014.

O texto lembra que o direito da liberdade de expressão e manifestação está garantido pela Constituição brasileira e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. “A liberdade de expressão é um direito amplamente garantido pelos padrões e dispositivos internacionais, sendo parte integrante e essencial para os sistemas democráticos das sociedades contemporâneas. Uma sociedade democrática não é compatível com essa escalada de repressão e supressão de direitos”, diz.

Avanços

O relatório aponta alguns avanços parciais na garantia ao direito de se manifestar. O levantamento aponta modificações na legislação - abordando restrições quanto ao uso de armamento; certas decisões judiciais e inovações em boas práticas policiais, como afastamento de agentes e absolvição de policiais militares acusados de desobediência ao se recusarem a tomar parte na repressão.

O relatório pode ser acessado aqui.