CARLOS CHAGAS -
Ontem,
porque a bola não rolou nos estádios da Copa do Mundo, foi dia de
alinhar algumas observações preliminares sobre o certame. Outras virão
quando tudo terminar, mas, por enquanto, é bom registrar:
Quem
assistiu as magníficas transmissões pela televisão, quando as câmeras
focalizavam as arquibancadas, terá tido a impressão de a copa estar
sendo realizada na Suécia ou na Noruega. Só lourinhas e lourinhos, gente
que parecia haver saído de salões de beleza, muito bem vestida e, pelo
jeito, melhor alimentada. Não se apresentou um retrato do Brasil, já que
só as elites parecem haver conseguido enfrentar os altíssimos preços
das entradas. O povão ficou de fora, ficamos devendo ao mundo as imagens
de trabalhadores, operários, negros, mulatos e brancos, mal vestidos
mas com o mesmo ou maior direito ainda de participar. O futebol virou
esporte da classe média alta para cima, com a participação da Fifa.
As
seleções da Europa, com duas ou três exceções, foram mandadas para casa
na fase inicial, demonstrando que a presunção e a arrogância estão
expulsas de campo. Espanha, Itália, Inglaterra, Portugal e outros
chegaram de nariz em pé, imaginando dar um passeio neste continente
subdesenvolvido.
Quebraram a cara. Dos nove sul americanos, oito estão
nas oitavas de final.
O
futebol, de um modo geral, andou para trás. Quase sem exceção, todo
craque que recebe um passe tem primeiro que matar a bola para depois dar
sequência à jogada, quando então já se vê assediado pelo adversário.
Pouquíssimos passam a bola de primeira, deixando de dar às partidas o
ritmo necessário ao futebol moderno.
Não
há um time que, quando apertado, não passe a bola para trás. O que mais
se vê são os zagueiros recebendo de companheiros da intermediária,
trocando passes que apenas dão à equipe contrária tempo para
articular-se e marcar.
Atrasar
a bola para os próprios goleiros em vez de avançar também virou rotina,
sem que se atente para o fato de que os infelizes obrigam-se a dar
chutões para a frente, quase sempre na cabeça ou nos pés da equipe
contrária.
Temos
tudo para chegar à final: time, torcida e futebol. Mas se não
chegarmos, podendo até cair nas partidas que se iniciam hoje, nem por
isso o país será diferente. Trata-se apenas de uma competição esportiva.
Por
último, uma cobrança: o governo não avançou um milímetro no sentido de
apontar para que servirão, durante a semana, os luxuosos estádios
construídos com preços superfaturados pelas empreiteiras. Por que não
poderiam ser adaptados para funcionar como escolas e universidades,
entregues à iniciativa privada de modo a ampliar de muito o número de
vagas e de professores hoje desempregados? Um negócio bom para todas as
partes, mas até agora olimpicamente desconhecido pelo poder público.