28.6.14

O CHILE PRETENDIA FAZER HISTÓRIA NÃO PASSOU DE FIGURANTE, MAS EXIGIU PRORROGAÇÃO, PENALTIS, E A DIFERENÇA MÍNIMA. ALGUÉM TINHA QUE PASSAR, FOI O BRASIL

HELIO FERNANDES

Aqueles que acreditaram ou acreditavam que o Chile não viera como sempre como simples figurante e sim para fazer história, se enganaram completamente. O cenário parecia perfeito. Três vitórias na fase de grupos, alegria indisfarçável, a certeza da vitória e a satisfação de devolver a derrota de 1962, mesmo 52 anos depois.

Foi a segunda vez que vi Brasil-Chile. Agora, e a primeira lá mesmo no Chile. Na belíssima Viña Del Mar, e as duas últimas partidas em Santiago. Eliminamos facilmente os donos da casa nas semifinais, derrotamos a Tchecoslováquia, num jogo sem graça e sem emoção.

Mas nem as vitórias ou o título, inesquecível. Inesquecível mesmo o extraordinário Estádio Nacional, que tanto frequentei. E que 11 anos depois se transformaria em campo de concentração, onde milhares de jovens foram trucidados, torturados, mortos ou desaparecidos. 

Golpistas queriam tortura e não futebol 

O notável Costa-Gavras fez três filmes sobre e contra ditaduras. O primeiro, que se chamou exatamente “Desaparecido”, tem o Estádio Nacional como grande personagem, centro e templo da crueldade humana. Filma magistral. O segundo também magistral, “Confissão” sobre a ditadura da União Soviética.

O terceiro, longe de ser como os outros, mas obrigatório, ganhou o título de “Estado de Sítio”. Não é um libelo, condena a ditadura brasileira, mas não tão duramente como as outras duas. Lógico, foi proibido no Brasil. Algum tempo depois, numa viagem jornalística a Paris, vi o filme. 

O jogo de agora 

Depois do vexame do “pênalti” do Fred no primeiro jogo. Do 0 a 0 contra o México. E dos 4 a 1 sobre o já eliminado Camarões, e a entrada de Fernandinho, pedido pelo Brasil inteiro, chegamos às oitavas.

Foi uma semana de suspense, com David Luiz entrando e saindo do hospital, mas jogando e Felipão espalhando, “estou muito nervoso”. E escalando Fernandinho no lugar de Paulinho, e “Hulk na vaga de Hulk”, começou o jogo.

Com 5 minutos de jogo, dois chilenos dão imprensada violenta em Neymar. Visível para cartão, o árbitro não deu nem falta. Tipo da provocação planejada, Neymar sai machucado ou com cartão, seria o segundo, eles sabem disso.

Aos 13 minutos, este repórter, que não torce, vê pênalti em cima de Hulk. Felipão levanta do banco pela primeira vez, da arrogância e impertinência para a visível ansiedade. Futebol? Muito pouco. 

Primeiro gol do Brasil 

Aos 19 minutos, David Luiz que ficou as últimas 72 horas entrando e saindo de hospitais, faz o gol do Brasil. Com isso entra no placar e talvez na história. O que todos falavam, aconteceu: “O Chile é frágil nas bolas aéreas”. Foi exatamente o que aconteceu. 

E o Fred por onde anda?

Ficou 25 minutos escondido. Aos 26 recebe uma bola, entrega ao adversário. Aos 27, outra dentro da área, escorrega, cai, olha para o árbitro, deve ser de constrangimento. Ele mesmo disse: “Hoje deve ser meu jogo de reabilitação”. Ainda há tempo, está faltando competência. Mas aos 39, sozinho, na frente do gol, chuta para o alto. Aos 44, em frente ao gol, cabeceia para a lateral. 

O empate

1 a 0 era pouco e assustador. Aos 32 minutos, Sanchez, o melhor jogador do Chile empata, numa falha alarmante da defesa brasileira. Quase uma repetição daquele gol único de Camarões. Está tudo desorganizado, marcação horrível. Aos 36 cabeçada ótima de Neymar, como não entrou? Não sei.
Termina o primeiro tempo com dois escanteios a favor do Brasil, desperdiçados. Como Neymar não desequilibra o jogo está equilibrado. 

Gol “Anulado”

Existe essa denominação, com duas interpretações. Quando há uma falta, geralmente impedimento e a bola entra. No gol do Hulk, o árbitro errou, a bola no máximo, no máximo bateu no ombro. O juiz “anulou”, aqui a palavra é legítima.

Aos 18 minutos, uma esperança para o Brasil: sai Fred, entra Jô, é o substituto natural. Mesmo que não faça nada, pior do que Fred, impossível. Aos 28, Fernandinho, que não viu a bola, dá lugar a Ramires. É a prova da incerteza e da fragilidade da seleção. Joga muito bem num dia e muito ruim no outro.

Aos 36 o Brasil melhora, Neymar cabeceia com violência, o goleiro defende, provoca bate e rebate na área. Se nos poucos minutos que faltam, não surgir um gol surpreendente, enigmático e extravagante, teremos que ir para a chata e cansativa prorrogação.

Acabou o jogo propriamente dito, tudo pode acontecer, de forma medíocre, mas tenho que dizer, emoção pura. 

A prorrogação 

15 minutos desperdiçados, o árbitro ainda deu mais 1 está gostando do jogo. Trocam de lado, recomeça. Felipão coloca William, tira Oscar, que em quatro jogos só apareceu em 1, o Chile agradece. 

Os pênaltis

Mais 17 minutos desperdiçados, domínio total do Brasil. Mas no último minuto, Pinilla chuta uma bola na trave. Os que vão bater os pênaltis, têm todo o direito à explosão da emoção. Com um chute certo ou errado, a vitória ou a derrota para o seu país. 

Final, sensação, esperança

PS – Dois pênaltis perdidos, para cada lado. E finalmente a vitória do Brasil, pela diferença mínima. 

PS2 – Não havendo nada a escolher, o melhor do campo vai para Júlio César que defendeu dois pênaltis. Um figuraço. 

PS3 – Agora, o Brasil se prepara para as quartas. No momento em que escrevo, Uruguai ou Colômbia.