7.9.17

FAVELA SEM INTERVENÇÃO POLICIAL JÁ!

ANDRÉ BARROS -


As operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro são desastrosas, aterrorizantes e historicamente racistas. Nos idos de 1823, Miguel Nunes Vidigal, policial que ficou conhecido por sua perversidade, desceu do morro de Santa Teresa ao centro do Rio trazendo duzentas pessoas negras amarradas por cordas e seminuas – homens, mulheres, idosos e crianças. Seu crime? Tentando fugir da escravidão, buscavam a liberdade nos quilombos do bairro. Essa passagem é relatada por Holloway em seu livro “Polícia no Rio de Janeiro. Repressão e resistência numa cidade do século XIX”. Hoje, quase duzentos anos depois, a polícia continua tirando a liberdade e assassinando nos lugares onde vivem os negros e pobres de Santa Teresa.

Muitos podem criticar dizendo que todo o crime deve ser combatido e é obrigação da polícia. Mas isso não é verdade, pois a polícia não tem condições de atuar nos quase trezentos crimes tipificados no Código Penal e ainda em centenas de leis especiais. Existe uma política criminal que é decidida pelo Estado na figura do Governador. A estratégia adotada pelo governo pode priorizar, por exemplo, o combate às drogas ou aos homicídios. Segundo nosso sistema constitucional, estabelece o artigo 144, § 6º, da Magna Carta Política do Brasil: “As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”

O ex-Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame confessou que é impossível acabar com o tráfico de drogas ilícitas, quando reconheceu o fracasso das Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em tal objetivo. O Coronel da Polícia Militar Robson Rodriguês, ex-comandante das UPPs, defendeu a legalização da maconha no seminário “Reage Rio” em 30 de agosto de 2017, quando declarou que regulamentar a maconha “desoneraria e muito as policias Civil e Militar para que elas pudessem focar em outros crimes, como homicídios e armas”.

Assim, a polícia não conseguiu entrar com as políticas sociais, como prometeu com a chegada das UPPs, nem acabar com o tráfico de drogas e, muito menos, com o tráfico de armas e munições. Se já foi confessado que acabar com o tráfico é impossível, essas operações policiais não tem outro sentido a não ser matar negros e pobres.

Agora, temos de fazer o caminho inverso e começar pelos fim dessas desastrosas incursões policiais. Queremos uma polícia investigativa para realizar grandes apreensões de armas e munições. Como chegam esses fuzis nas mãos de adolescentes e jovens negros e pobres, escravizados pelo tráfico de drogas? Recebem 50 reais por dia, raramente sobrevivem aos 24 anos de idade, enquanto milhões circulam pelos becos das favelas do Rio de Janeiro que sequer possuem saneamento básico.

Que cessem essas operações racistas, que só levam a morte de jovens negros e pobres! E que essa caminhada pela paz comece pela legalização da maconha, tornada ilícita por puro racismo, e que gera milhões, pois é a mais vendida e consumida das substâncias chamadas de droga. Essa capacidade de produzir riqueza vem sendo demonstrada pelos bilhões rendidos aos Estados Unidos da América com a legalização da maconha para fins medicinais e recreativos. Num futuro próximo, sonho com a maconha sendo vendida legalmente no morros e favelas, sem a necessidade dos fuzis para proteção do mercado ilegal, com a planta da paz ajudando a libertar os negros da pobreza na cidade maravilhosa.