1.12.16

MÃES DA MACONHA. MOVIMENTO CONQUISTA MAIS DIREITOS

ANDRÉ BARROS -

Quando uma mãe decide lutar por seus filhos, não tem pra ninguém. E, agora, vemos no Brasil um enorme movimento das mães que reivindicam o direito de tratarem seus filhos com medicamentos a base de maconha: já conquistaram o direito de importar e, agora, de plantar a erva para fins medicinais.

Fotografia de Phill Whizzman.
Quando as mães se unem para lutar por seus filhos, elas são imbatíveis. A história comprova esta realidade. Na Argentina, as mães, que tiveram seus filhos desaparecidos na ditadura militar e roubados pelos ditadores, se uniram e ficaram internacionalmente conhecidas como as Mães da Praça de Maio. Muitas crianças foram encontradas e voltaram para suas mães e avós. Torturadores assassinos foram julgados e condenados após o fim da ditadura, graças à força da união das mães argentinas.

Aqui no Brasil, as mães que tiveram seus filhos torturados, assassinados e desaparecidos criaram o Grupo Tortura Nunca Mais – GTNM. Conseguiram desmascarar ditadores que escondiam a verdade histórica. Médicos que falsificaram laudos periciais foram desmascarados. Desaparecidos foram encontrados em arquivos abertos pela luta dessas mães. Mesmo sem terem sido processados no Brasil, muitos torturadores foram retirados de seus esconderijos pela luta do mais importante movimento de mães contra a ditadura militar no Brasil, o GTNM.

Agora, no Brasil, temos a união de mães que estão enfrentando todos os tipos de preconceito e se arriscam, por seus filhos, a serem presas nesses campos de concentração chamados de presídios. Tentaram vários tipos de medicamento para suas filhas e seus filhos com doenças raras e epilepsias graves, mas nada ou pouco adiantavam. Pesquisaram e encontraram na maconha medicinal uma esperança. Testaram a planta, clandestinamente, e viram as convulsões de seus filhos se atenuarem ou cessarem. Nos Estados Unidos, a maconha já vem sendo indicada em casos de leucemia em crianças. A união das mães está conseguindo, com a colaboração de sensacionais ativistas e advogados, vitórias inimagináveis há bem pouco tempo na Justiça brasileira. Conseguiram a autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para a importação de remédios de maconha. Estão colocando em xeque estas importações de remédios caríssimos, pois poderíamos plantar e fazer esses remédios no Brasil, a preço bem menores e até de graça, já que poderiam ser feitos em casa.

As mães negras, pobres e moradoras das favelas resolveram se unir contra os assassinatos dos seus filhos pela polícia, sempre amparada por todo esse sistema jurídico penal punitivo dos autos de resistência. Essas mães são as mais vulneráveis, pois enfrentam a farsa de um sistema penal racista e violentíssimo. Um mercado milionário, que coloca policiais negros e pobres atirando contra soldados e escravos do tráfico, também negros pobres. A base dessa guerra vem da terrível desigualdade social, da falta absoluta de saneamento básico, do péssimo sistema educacional e de nossas raízes racistas, monarquistas e escravocratas. A maconha é ilegal porque foi trazida pelos negros degredados da África e escravizados no Brasil. As bocas de fumo foram a resistência dos negros nos morros que buscavam preservar a sua cultura da maconha. As mães unidas contra todos esses assassinatos que ocorrem diariamente nas favelas, comunidades, morros, sabem que a legalização da maconha é importante para tirar seus filhos da mira das “balas perdidas” despejadas na hora que vão para a escola e quando brincam em suas comunidades nos fins de semana. E, também, para tirar das mãos de crianças, adolescentes e jovens negros, as semi-automáticas, automáticas e pistolas, uma verdadeira farsa armada. É a ilegalidade da maconha e de outras substância proibidas que faz o preço alto dessas mercadorias para financiar todo um sistema penal corrupto e o mercado de armas e munições caríssimas.

A unidade das mães dos morros será decisiva para o avanço da paz com a legalização da maconha e das bocas de fumo, passo fundamental para tirar essas armas de verdade das mãos das crianças, adolescentes e jovens negros e pobres.