MARCELO MÁRIO DE MELO -
RECURSO EXTREMO
Cortar os pulsos
não me atrai
por torturante
indiscreto
anti-higiênico
muito menos
a maiacoviskiana bala
na cabeça.
E não estão em pauta
as três dezenas de sonífero
recurso reservado a incisos
de parágrafos e artigos específicos
da desconstituição da vida.
Esbravejar
dar socos na parede
quebrar coisas
estancam
na partida dos cem metros rasos
ante uma onda gigante
que se quebra por dentro
cravando na alma os estilhaços
e arrastando as mãos
a arrancar cabelos
sinal à beira do abismo
a que se atende
em fio de vida
raspando a cabeça em exorcismo.
Depois
comum a réu sem culpa
acidentado
doente que comprova no exame
o horizonte do ponto final.
o sentimento inútil
do não merecido
***
A ESPERA DA ESPERANÇA
Quem espera sempre alcança
ou se cansa de esperar?
ou se cansa de esperar?
A esperança cansada
estanca o seu caminhar ?
estanca o seu caminhar ?
O cansaço da esperança
modifica o seu olhar?
modifica o seu olhar?
Na espera a esperança
acumula esperançar?
acumula esperançar?
A dança da esperança
faz rodar ou espiralar?
faz rodar ou espiralar?
A espiral da esperança
pode se enferrujar?
pode se enferrujar?
Quem destrava a esperança
para ela vicejar?
para ela vicejar?