26.4.16

PREPARANDO O TERRENO PARA O DIA SEGUINTE

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


De uma coisa estamos certos: se o sol não explodir ou se não formos incinerados por um grande cometa, no dia seguinte à votação do impeachment pelo Senado as ruas de São Paulo continuarão congestionadas, as praias de Copacabana continuarão convidando ao banho e o Brasil continuará do mesmo tamanho. Para os que gostam de história, pode-se lembrar que no dia 15 de julho de 1789, na data seguinte à da queda da Bastilha, Paris amanheceu sem qualquer alteração em suas ruas e praças com seu clássico glamour costumeiro.

O problema é o que virá depois, ao longo de semanas e meses. Então a insatisfação com o desemprego e a contração da atividade econômica, que não tem como ser revertidos por um governo iniciante e vacilante, provavelmente se transformará num tsunami de convulsão social. Não estou falando apenas no caso de aprovação do impeachment; falo também no caso de ele não ser aprovado. Nas duas hipóteses, a sociedade brasileira já terá esgotado sua paciência com o velho, e perdido a esperança com o pseudo-novo.

Tenho tido discussões com dirigentes sindicais e de movimentos sociais sobre as perspectivas. O tom básico, para o caso de impeachment, é resistir com todas as forças a qualquer tentativa de regressão no campo social. Já no caso de não haver impeachment o tom básico é exigir do governo o que não conseguiu fazer, sobretudo no segundo mandato de Dilma, no campo da política econômica. Nos dois casos, o elemento comum de mobilização é colocar imediatamente em jogo a questão de um projeto nacional. Já. Imediatamente.

*Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ.