Por FÁBIO GÓIS - Via Congresso em Foco -
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Ex-presidente defendeu "companheira Dilma" e foi ovacionado pela militância petista. |
Em discurso para a militância do PT, o ex-presidente Lula saiu em defesa
da presidenta Dilma Rousseff nesta terça-feira (24) e disse que sua
sucessora não pode “ficar dando trela” à crise provocada pelo escândalo
de corrupção na Petrobras. Para Lula, “meia dúzia” de pessoas que
praticaram crimes investigados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, não podem destruir a petrolífera, e Dilma não deve tomar partido nessa situação.
“Nossa companheira Dilma Rousseff tem que deixar o negócio da
Petrobras para a Petrobras, e a corrupção para o ministro da Justiça ou
para a Polícia Federal. A Dilma tem que levantar a cabeça e dizer ‘eu
ganhei as eleições e vou governar o país’. Não pode e não deve ficar
dando trela [para as críticas], se não a gente fica paralisado”, disse o
cacique petista, ovacionado aos gritos de “Lula, guerreiro, do povo
brasileiro!”.
Lula fez o discurso na sede da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI), no centro do Rio de Janeiro, em ato em defesa da Petrobras
promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação
Única dos Petroleiros (FUP). Para o ex-presidente, Dilma deve apenas se
preocupar em governar o país e resolver os problemas que terá pela
frente em seu segundo mandato. Os corruptores e corrompidos no âmbito da
estatal, disse, devem ser devidamente punidos.
“O que não pode é jogar a Petrobras fora por meia dúzia de pessoas”,
acrescentou o ex-presidente, dizendo-se orgulhoso de ter participado da
“maior capitalização da história do capitalismo mundial, que foi a
capitalização da Petrobras, na Bolsa de Valores na cidade de São Paulo”.
A oposição ao governo petista também foi mencionada no discurso.
“Honestidade não é mérito, é obrigação. Eu quero paz e democracia, mas
se eles querem guerra, eu sei lutar também. Eles continuam fazendo hoje o
que sempre fizeram. A ideia é criminalizar antes de ser julgado. Você
tem que ser criminalizado pela imprensa. Se eu conto uma inverdade
muitas vezes ela vira verdade”, fustigou Lula, recorrendo à ironia para
criticar a imprensa em sua própria sede nacional. “Não precisa mais de
Justiça. Se a imprensa falou está falado. Mas cheguei à Presidência [da
República] duas vezes sem ela.”
Segundo o site do jornal O Estado de S. Paulo, Lula
foi instado a “voltar às ruas” pelo líder do Movimento dos Sem Terra
(MST), José Pedro Stédile, no que foi atendido: Lula respondeu dizendo
que “apoio não lhe falta”. “Tudo o que a [a ex-primeira-dama] Marisa
quer é o que o Lulinha volte a ser o Lula de sindicato de São Bernardo.
Tudo o que a Marisa quer é que eu volte há 40 anos”, sinalizou o
ex-líder sindical no ABC paulista entre os anos 1970 e 1980.
Confusão
Antes de começar o evento, manifestantes a favor e
contra o PT se enfrentaram nos arredores da sede da ABI. Enquanto
militantes petistas e membros da CUT e da FUP, a maioria com camisas
vermelhas, reverberavam o ato na entrada da associação, um grupo de
pessoas protestava contra o governo, inclusive pedindo o impeachment de
Dilma. As divergências, manifestadas em uma movimentada avenida
fluminense, culminaram na troca de ofensas e agressões físicas.
Segundo o site do jornal Folha de S.Paulo, um
funcionário da Petrobras, Vinicius Prado, teve o crachá funcional
quebrado, a camisa rasgada e foi agredido “por militantes com camisetas
vermelhas”. Os petistas, informou o veículo de imprensa, “jogaram ovos
contra os opositores”. Não houve detenções ou ocorrências de feridos com
gravidade, informou ainda Folha, e a Tropa de Choque da Polícia Militar
conteve o tumulto, separando “os cerca de 300 petistas do grupo” dos
“15 manifestantes antigoverno”.
Intelectuais
O movimento em defesa da Petrobras e do Brasil já havia sido esboçado em outra frente, na semana passada, em manifesto
divulgado por intelectuais e personalidades de diversas áreas.
Subscrito por 48 nomes em defesa do “governo legitimamente eleito” da
presidenta Dilma Rousseff, o texto denuncia o que chama de “campanha”
para enfraquecer a estatal e, consequentemente, a gestão da petista.
Na argumentação, os autores do documento fazem uma analogia entre a
ação de instituições da República, setores da imprensa e parlamentares,
na esteira da Operação Lava Jato, e o golpe de 1964, que tirou o então
presidente João Goulart do poder e deu início ao regime de exceção da
ditadura militar (1964-1985). Segundo o texto, a derrocada da
petrolífera representaria a extinção de cerca de 500 mil empregos
diretor e indiretos, e reconduziria o Brasil a uma situação “subalterna e
colonial” frente ao mercado financeiro internacional.
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