6.9.16

SEM DIÁLOGO COM A POPULAÇÃO, NÃO HÁ POLÍTICA

CARLOS CHAGAS -


Estão demorando a sumir as multidões que nas avenidas Paulista e Atlântica desfilaram protestando contra o presidente Michel Temer. Fosse feita uma pesquisa a respeito da motivação que as leva às ruas e se colheriam razões variadas, mas a primeira, sem dúvida, seria a frustração da falta de diálogo do governo com o país, de a população não haver participado da escolha do novo presidente.

O impeachment de Dilma Rousseff foi uma ação entre amigos, realizada no Congresso, sem a menor correspondência com o sentimento popular. É verdade que Madame também não despertava qualquer reação no cidadão comum, tanto que não se viu, até hoje, nenhum grito ou cartaz pregando o “volta Dilma”. Sequer o PT preocupa-se com a sorte da ex-presidente, que hoje, por sinal, retorna a Porto Alegre.

Os protestos populares exprimem o vazio que separa o Brasil real do Brasil formal. Já era assim faz tempo, mas a ascensão do vice-presidente ao trono acentuou a diferença. Dificilmente as manifestações de São Paulo, Rio e outras capitais despertarão mudanças nas instituições vigentes. Algumas depredações fornecerão imagens e fotos para os jornais e noticiários de TV, além de demonstrações nem sempre civilizadas da polícia,  mas sem maiores consequências.

Voltamos ao ponto de partida de antes do impeachment: o governo Dilma, como agora o governo Temer, nenhuma relação dispõem com o cidadão comum. Despertam no máximo manifestações de protesto. Faltavam, como continuam faltando, mecanismos de integração e de diálogo com a população.