CARLOS CHAGAS -
Na sua mais recente intervenção política, o Lula recomendou à
presidente Dilma levantar a cabeça. Vamos supor a sucessora seguindo o
conselho do antecessor. Verá o quê, além da paralisação dos
caminhoneiros, da alta nos preços, das generalizadas reações contra a
redução de direitos trabalhistas, mais o temor dos partidos de sua base
política diante da lista a ser divulgada pelo Procurador-Geral da
República por conta dos escândalos na Petrobras. Também verá a
insatisfação do PMDB diante do distanciamento do governo, a rebelião no
PT, o sentimento de independência do Congresso transformar-se em
hostilidade, envolta por sua impopularidade expressa nas recentes
pesquisas de opinião. Sem falar nas ameaças de impeachment e num
ministério amorfo, insosso e inodoro. Quantos obstáculos e desgraças a
mais?
Raras vezes alguém ocupando a presidência da República defrontou-se
com tamanho inferno astral, mesmo pouco depois de seu aniversário.
Importa prospectar as razões dessa queda, justo em seguida à
reeleição. É preciso ir além de suas características pessoais, como a
presunção, a arrogância e a rispidez no trato com os subordinados. O
fracasso na função de governar deve-se, basicamente, à incapacidade de
compreender e de integrar-se ao Brasil e aos brasileiros. Não somos um
quartel, nem uma repartição pública, muito menos um colégio de freiras
onde a Madre Superiora impõe suas concepções às freirinhas assustadas.
Há quanto tempo Madame não sai à rua como simples cidadã, não vai à
praia lotada de gente num dia de sol, não faz compras num centro
comercial, não entra num restaurante ou até num botequim, se é que já
entrou? Suas agruras tem raízes no isolamento, tanto faz se por
julgar-se superior, dona das verdades absolutas, ou por timidez. Para
resumir, falta um sorriso. Uma descontração. A presidente lembra mais o
general Ernesto Geisel do que Juscelino Kubitschek, só para referir dois
polos opostos de ocupação do poder. Mesmo sem sentir, ela transmite
seus sentimentos e sua postura ao país inteiro. Acaba contaminando a
maioria. Colhe o que vem plantando, com os olhos voltados para o
canteiro, sem levantá-los.
DE ONDE TIRAR O DINHEIRO?
Os ministros, com Joaquim Levy à frente, silenciam quando escutam da
grande maioria de parlamentares com quem tem conversado sugestões para
ajustar a economia através da criação do imposto sobre grandes fortunas,
taxando as remessas de lucro para o exterior, as heranças e até o
faturamento dos bancos. Preferem defender a redução de direitos
trabalhistas.