Por LUCIANO MARTINS COSTA - Via Observatório da Imprensa -
O desempenho da ex-ministra Marina Silva como candidata do PSB à
Presidência da República, na mais recente pesquisa do Ibope, provoca uma
quebra na polarização que tem marcado o debate político e econômico nos
últimos anos. Pelo menos na imprensa, pelo que se pode ler nos
principais jornais de circulação nacional na sexta-feira (29/8), seu
discurso produz uma diversidade maior de opiniões, como que obrigando os
analistas a procurar mais sutileza em alguns temas. Por exemplo, o
esforço da candidata para superar divergências com os produtores de
etanol coloca em debate a política do petróleo, mas não nos termos
propostos tradicionalmente pelo PSDB, que se resume basicamente à
disputa entre estatistas e privatistas.
A declaração de Marina, de que, se eleita, vai reduzir os esforços para
a exploração do pré-sal, pode ter agradado aos usineiros, mas cria
problemas com os estados que mais se beneficiam com os royalties do
petróleo. Não por acaso, o carioca O Globo é o único entre os grandes diários a citar especialistas para contradizer a proposta.
Dedicada a aproveitar ao máximo a exposição proporcionada pelo debate
na TV Bandeirantes, associada ao resultado da pesquisa Ibope que a
posiciona como segunda colocada, a candidata do PSB precisa garantir
rapidamente apoios consistentes entre as forças mais poderosas da
economia e da mídia, para evitar que sua ascensão seja apenas uma onda
passageira. Como se sabe, a escolha emocional de boa parte do eleitorado
exige alguma ancoragem em argumentos objetivos para se transformar em
decisão madura, capaz de chegar às urnas.
Ao buscar o apoio de usineiros e outros protagonistas que manteve
sempre à distância, quando não os declarava explicitamente inimigos dos
princípios da sustentabilidade, Marina Silva procura garantir os
indecisos que aderiram à sua candidatura e convencer eleitores de Aécio
Neves de que seu projeto é mais que um sonho. No entanto, essa
necessidade a coloca numa posição vulnerável diante dos adversários, que
não precisam lidar com essa contradição potencialmente perigosa.
Um terreno perigoso
O resultado dessas manifestações da candidata do PSB já deve aparecer
no próximo debate entre os presidenciáveis, organizado pelo grupo
Folha-UOL, SBT e rádio Jovem Pan, a partir das 17h45 da segunda-feira,
1º de setembro. Muito provavelmente, Marina Silva terá que dividir com a
presidente Dilma Rousseff, que foi atacada intensamente pelos demais
candidatos no primeiro debate, o papel de alvo preferencial dos
contendores.
Ao candidato do PSDB não restará alternativa, a não ser dividir suas
baterias entre a presidente que busca a reeleição e a nova protagonista,
que ameaça deixá-lo fora de um eventual segundo turno. Aécio Neves já é
considerado, por alguns comentaristas da imprensa, como carta fora do
baralho. No Globo e no Estado de S. Paulo, colunistas de política dão como certa a derrota do tucano, enquanto a Folha cita um comunicado de uma consultoria que dá a Marina Silva 60% de probabilidade de ser eleita.
Nas entrevistas que são publicadas pelos jornais, Marina Silva tenta
conciliar seu perfil de idealista com o pragmatismo que o debate
eleitoral exige. Colocou em circulação a expressão “amadores de sonhos”,
para atender às expectativas emocionais dos eleitores, e ao mesmo tempo
se esforçou para convencer o poderoso setor da cana de que não é a
mesma que, no Ministério do Meio Ambiente, semeou conflitos com o
agronegócio.
A candidata resolveu se empenhar pessoalmente em buscar o apoio do
mercado provavelmente porque seu emissário oficial, o economista e
filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, é considerado pelo mercado mais
filósofo que economista, embora tenha um doutorado em economia pela
Universidade de Cambridge, na Inglaterra. No entanto, esse protagonismo
de Marina pode dar munição a seus adversários, porque, se abordar
equivocadamente um tema sensível, será envolvida em debates de alto
risco.
O caso do petróleo é um bom exemplo. Sua declaração diante de usineiros paulistas virou manchete do Globo:
“Programa de Marina deve tirar prioridade do pré-sal”, alardeia o
jornal carioca. No rastro dessa afirmação, ela pode perder votos no
território que vai do Espírito Santo a Santa Catarina, em cujo litoral
se estendem as reservas de óleo de alta profundidade.