CARLOS CHAGAS -
A cada pesquisa divulgada mais parece crescer o desespero no governo e
no PT. Evidência disso foi a inusitada reação de Dilma, sexta-feira, em
Salvador, ao comentar declarações de Marina a respeito de, em seu
governo, vir a dar ao pré-sal um papel secundário. Pode ter sido uma
precipitação, até uma bobagem da ex-senadora, mas só a iminência da
derrota justificaria que a presidente a tivesse chamado de
“fundamentalista, retrógrada e obscurantista”. Ao defender o pré-sal,
mesmo sem citar a adversária nominalmente, Dilma perdeu-se em
explicações sobre política energética, defendendo a implantação de mais
hidrelétricas e sustentando que a energia eólica e o etanol são
complementares do petróleo, não seus substitutos.
No fundo da discussão, para Dilma, estavam os mais recentes números
divulgados pelo Datafolha: Marina vence no primeiro e no segundo turno
por diferença de dez pontos, por enquanto.
Mil tratados serão escritos a respeito das causas de tão profunda
reviravolta no quadro sucessório. Cada um que selecione seu cientista
político preferido, mas não haverá como fugir da evidência: o eleitor
se identifica em Marina. Como candidata a vice, não aparecia e não
empolgava, sequer servia de contraponto à arrogância e à soberba de
Dilma. Com a tragédia atingindo Eduardo Campos, virou o jogo: Marina
reivindicou a candidatura, que recebeu de modo natural. Era o que o
cidadão comum não estava esperando mas recebeu como um presente: uma
candidata igual a todos nós.
Alega-se, no ninho dos tucanos e no bunker do PT, que em um mês as
coisas poderão mudar. Na teoria, claro. Na prática, muito difícil. As
tendências, quando se firmam, não costumam desaparecer. Marina é uma
delas.
Importa menos saber de ela vai proibir a implantação de
hidrelétricas, se vai subsidiar o etanol ou voltar à energia nuclear. A
verdade é que caiu no gosto popular. Para o PT,Lula, Dilma e
penduricalhos, fica a lição maior da humildade: ninguém é
insubstituível…