JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
O escândalo que move
governos e populações de vários países europeus contra o Brasil
não é apenas por causa das queimadas na Amazônia. É por causa da
iniciativa impertinente de Jair Bolsonaro de tentar esconder dados
científicos de desmatamento na região amazônica mediante a
demissão do diretor do INPE, Ricardo Galvão. Antes disso as
intenções malévolas do Presidente já haviam surgido com sua
tentativa de se apossar do dinheiro noruguês e alemão do Fundo
Amazônico para “indenizar” grileiros da floresta.
Se o país não
estivesse tão estonteado e intimidado pela sequência de ações
agressivas de Bolsoaro, as reações aos crimes ambientais do Governo
teriam explodido aqui dentro. Mas elas começam a explodir, agora,
felizmente, animadas pelo que acontece além fronteiras. A acusação
às ONGs de serem responsáveis pelo incêndio é próprio de um
provocador boçal, sem postura de presidente, com claros problemas
psicológicos que denunciam, como disse em artigo anterior, a
ausência de um superego.
É que Bolsonaro não
tem limites. Ele faz declarações pessoais e pela internet como se
estivesse numa conversa de botequim com outros tenentes expulsos do
Exército. Sua insistência em afirmar que é presidente, portanto
que manda em todos e em tudo, denuncia uma deformação mental de
quem não tem a menor noção do que é ser presidente da República.
Nessa crise deflagrada internacionalmente a floresta é apenas um
detalhe. Incêndios ocasionais em florestas acontecem no mundo todo.
O centro da questão é um presidente que não tem consciência de
que está pondo em risco um bem comum da humanidade.
Desculpem-me os amigos
desenvolvimentistas que acham que a prioridade não é o meio
ambiente, mas o desenvolvimento, pois somos um país ainda muito
pobre. O corolário disso é dizer que os países ricos destruíram
seu meio-ambiente para se desenvolver. Isso não passa de uma
patacoada. No padrão civilizatório e econômico atual, é
perfeitamente possível fazer da luta pelo meio-ambiente um
instrumento de desenvolvimento. Aliás, temos feito isso muito bem. O
problema maior é o desmatamento que antecipa queimadas.
Nos séculos de
desenvolvimento europeu e norte-americano que implicou desmatamentos
não havia alternativas para a madeira como meio de construção.
Hoje a tecnologia resolve isso. Claro, meter no chão árvores
centenárias da Amazônia é mais barato, mas uma freada no
aquecimento global paga a diferença. E embora a Amazônia não seja
o pulmão do mundo, como alegado pelo presidente francês, ela tem
uma contribuição fundamental ao regime das chuvas e de proteção
da camada de ozônio na América do Sul.
Mesmo que a floresta
não desse contribuição alguma ao equilíbrio ambiental, o
desmatamento indiscutivelmente é uma tragédia para o meio ambiente,
como ficou claro com as últimas chuvas de cinzas no país. Isso diz
respeito a nós, brasileiros, e somos nós que temos o dever para
conosco mesmos e com a humanidade de ir para a rua denunciar a
degradação do nosso meio-ambiente. Notem, Bolsonaro estava
insinuando sair do Acordo de Paris. Ninguém aqui o seguraria, pois é
um obstinado, como disse, sem limites.
Internamente, os
únicos que poderiam segurá-lo e contestar suas patacoadas seriam os
militares. Contudo, os militares parecem catatônicos, com um
tremendo complexo de culpa por o terem inventado e depois cercado de
reservistas quatro estrelas nos Ministérios, para desonra das Forças
Armadas. Portanto, com os civis intimidados e os militares
confortáveis em seus postos de governo, resta-nos a ajuda externa.
Que venha. Obviamente, ninguém deve ter medo de intervenção. Basta
um bom boicote de exportações, que o pessoal do agro,
majoritariamente eleitor de Bolsonaro, tratará de trazê-lo para o
bom caminho.