12.12.16

CHEGOU A HORA DE DETONAR TODA PODRIDÃO POLÍTICA DA REPÚBLICA

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Amanhã será outro dia, segundo o canto de Chico Buarque. Será uma terça-feira emocionante. Todas as circunstâncias políticas favorecem uma situação em que serão detonadas no mesmo movimento a PEC-55, a cúpula do PMDB, a cúpula do PSDB, a Cúpula do Judiciário e a cúpula do Congresso Nacional. Nada sobrará da parte de cima da superestrutura política republicana. Os de baixo terão de encontrar caminho próprio para o topo na medida em que não estejam, eles próprios, envolvidos nas tramas financeiras das empreiteiras.

A primeira a cair será a PEC-55. Contra todos os prognósticos anteriores, uma parte significativa dos senadores vai se recusar a corroborar uma farsa legislativa destinada a recobrir os interesses escusos de bandidos. A PEC-55 foi vendida pela quadrilha de Temer ao capital financeiro. Por certo, o Presidente sub-judice tentou repassar a aliados do Senado a farsa de sua essencialidade, confiando na ignorância específica deles em questões econômicas e jurando falsamente que a emenda constitui o único caminho para o resgate da economia.

A delação premiada dos executivos da Odebrecht permitiu uma parada para meditação. Mesmo que alguns senadores tenham sido comprados, como é da praxe desse governo em votações que lhe interessam, pensarão duas vezes agora se se faz sentido continuar na trilha de um governo que logo vai cair e que provavelmente não terá caixa ou cargos para cumprir todos os compromissos assumidos. Nessa circunstância, a PEC-55 está condenada. A última oportunidade de Temer em vender a alma para a banca desapareceu.

O segundo movimento da terça feira envolve o PMDB e o PSDB. As cúpulas de ambos os partidos estão atoladas até o pescoço na Lava Jato. Se os quadros da base não quiserem segui-los para o esgoto terão de buscar um caminho de regeneração. É um equívoco supor que todos os partidos são formados por interesseiros e bandidos. Em todos eles, há gente idealista, nacionalista, comprometida com o Brasil. Todo o poder aos honestos, deve-se gritar. E são eles próprios que deverão tomar a iniciativa de fazer a profilaxia partidária.

O terceiro movimento desta terça é a detonação do comando do Congresso. Não é aceitável que Renan Calheiros continue na presidência do Senado e que Rodrigo Maia fique na presidência da Câmara, ambos mergulhados, como estão, nas delações da Odebrecht. Os parlamentares das duas casas deverão encontrar urgentemente uma saída para limpar sua direção. Assim como no caso da sublevação contra as cúpulas dos principais partidos metidos na Lava Jato, é o momento de os honestos que ainda existem subirem na escala do poder.

Finalmente, no quarto movimento, é preciso limpar as cavalariças do Planalto e pôr imediatamente para fora os Padilha e os Moreira Franco, cúmplices de Temer no assalto aos cofres públicos através das empreiteiras. Também é preciso colocar freios no Judiciário, inclusive através do projeto de abuso de autoridade relatado pelo senador Roberto Requião. No último movimento é o próprio chefe da quadrilha que deve ser expelido do palácio para que as crianças do Brasil não se acostumem a homenagear na Presidência alguém que se confunda com um bandido. Esses movimentos se revelarão como simultâneos, pois são como um castelo de cartas, derrubadas sintomaticamente a partir da PEC-55.

Situações históricas críticas são governadas pela lógica e pelo acaso. O acaso foi a delação. A lógica é o terreno da absoluta indignação da sociedade diante da liderança política desonesta. Para que as coisas aconteçam, porém, a sociedade deve ver alguma luz adiante. Não adianta detonar ou demolir todas as instituições políticas se não se coloca nada no lugar. Daí a insistência que tenho tido na necessidade de um grande acordo para resolver a crise política e econômica, assim como o imperativo de se estabelecer logo um plano econômico de emergência. Nós não temos alternativa, exceto a sublevação social e a ditadura.