CARLOS CHAGAS -
Qual a maior força nacional? O leque está aberto, mas, felizmente,
não há supremacia de nenhuma, ao contrário de tempos idos e vividos,
desde o Descobrimento. Não dá para afirmar com segurança quem manda no
Brasil, tantos os vetores que se cruzam e se revezam nas impressões de
hoje.
Será o dinheiro, com seus detentores e manipuladores, o grande motor
que nos move, ou seja, o capital? Tempo houve em que essa era a
resposta. Hoje não mais, apesar de sua pujança.
A grande força será o trabalho, expresso nas entidades sindicais e
penduricalhos? Muito se tem tentado, com significativos avanços, até da
legislação, mas da mesma forma como o capital, também não é a força
preponderante.
Serão os governos, entendidos nos planos federal, estadual e
municipal? De jeito nenhum, dada desmoralização crescente das estruturas
de que são formados e dos personagens que os representam. Faz tempo que
saíram pelo ralo o medo e o respeito que o governos exprimiam.
As religiões? Devem ser excluídas, só pelo fato de se terem
multiplicado, ao contrário do que representou o Cristianismo através dos
séculos. Desapareceu aquela prevalência ditada pela fé e pelo temor do
fogo eterno.
Então a resposta estará nas forças armadas? Ledo engano. A última vez
em que se arvoraram de ser a força definitiva, quebraram a cara e hoje
se conformam em viver à margem do poder.
Juristas de alto saber e de reputação ilibada dirão estar a força nas
instituições políticas, desde a Constituição e as leis até os três
poderes da União, do Congresso ao Judiciário e ao Executivo. Nada mais
tênue nem desfigurado neste começo de século, onde um simples bater de
panelas assusta e intimida os que deveriam conduzir a nacionalidade.
Para os sociólogos e até os filósofos, a grande força repousa na
juventude, na perspectiva do futuro que sempre ultrapassará em qualidade
aquilo que passou ou ainda persiste em frangalhos. Outro malogro,
porque os moços de hoje dividem-se entre o egoísmo e a confusão. Se um
dia representaram esperança, agora significam desalento, por mais cruel
que pareça a conclusão. Deles nada haverá que esperar além de que
envelheçam.
Alguns poetas e outro tanto de cientistas fixam-se na natureza como a
força motriz do planeta, detentora dos destinos da Humanidade, capaz de
iluminar e construir tanto quanto de destruir e escurecer, até entre
nós como nação continental. Nem a natureza dispõe de leis em condições
de permitir previsões sobre seu comportamento e o dia de amanhã. Se é
fator dominante na vida de todos, pelo menos seria aconselhável que se
desse a conhecer.
Sendo assim, e passando do geral para o particular, ou seja, do
universo infinito para essa insignificante bolinha de carbono perdida na
imensidão, e desta para nossa triste nação, qual o resultado a tirar da
ausência de uma força hegemônica que dirija nossos destinos? Por sorte,
nenhuma, ou melhor, todas as relacionadas acima. Será do equilíbrio de
fatores como o dinheiro, o trabalho, os governos, as religiões, os
militares, as instituições jurídicas, a juventude e a natureza que
poderemos encontrar meios para seguir adiante. Mas com a dúvida
permanente: para onde?...



