JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Nas muitas vezes em que conversei com o senador Roberto Requião sobre as perspectivas de algum movimento de massas expressivo contra a política econômica sanguinária em que estamos metidos há quase dois anos, ele se revelou bem mais cético que eu. Os trabalhadores do setor privado, argumentava, estão com medo do desemprego e milhões deles não tem dinheiro sobrando sequer para pagar passagem e comparecer a uma manifestação. Os do setor público são movidos exclusivamente por interesses corporativos.
Meu argumento, em contraposição, era de que tudo tem um limite. Em tempos normais os trabalhadores do setor público, sendo os mais propensos a mobilizações e greves porque tem emprego garantido, não se mobilizam efetivamente pelo interesse geral. Extremamente individualistas, vaidosos, voltados para o próprio umbigo, seus líderes não tem visão estratégica e se limitam a um sindicalismo convencional. Pior, nem mesmo os interesses de suas categorias representam. Neutralizam-se em conflitos ideológicos e partidários.
Mas tudo tem um limite. Agora os servidores públicos estão pisoteados em seus direitos, com empregos em risco, salários reduzidos e fragmentados, perspectivas profissionais liquidadas por vinte anos, segundo manda a PEC-55/241 e a PEC-257. Ao refletirem sobe o futuro de suas famílias perceberão o terrível engano que cometeram ao pensar que estavam na zona de conforto. Não estão. Agora, sem defesa efetiva do interesse geral, não há interesses corporativos a defender.
A PM, mais coerente, entendeu que o estrangulamento de suas verbas viria da emenda 257. E a emenda 257 constitui uma agressão a interesses fundamentais dos Estados federados, e não apenas a interesses corporativos. É fundamental entender essa medida voltada para a destruição do que existe do Estado de bem estar social, com a descarada promoção do Estado mínimo imposto pela banca internacional e interna através dos braços operacionais do FMI e do Banco Mundial, assim como do Departamento de Estado americano.
A grande mídia manipuladora, a serviço da banca, não analisou nenhuma das medidas de violação de direitos que tramitaram no Congresso nas últimas semanas. No próprio Congresso também sua direção corrupta sonegou o debate. Tem sido graças às redes sociais que a sociedade está tomando consciência da agressão a seus direitos, a exemplo da chamada reforma da Previdência. Para distrair o povo, a Lava Jato produz um escândalo por dia, na mesma medida em que os imperadores romanos produziam circos.
No entanto, se a paz social desandar por falta de policiamento nas ruas, é possível que as Forças Armadas tenham que intervir. Minha torcida é que o façam com sabedoria, tal como acontecia na república romana a chamado do Senado para enfrentar uma situação de crise. Cumprida a tarefa cirúrgica por um ditador civil pro tempore, em prazo suficiente limpar exemplarmente Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público, todos em manifesto conflito entre si, volta-se o poder a mãos democráticas, através de eleições diretas e gerais.
Feito com sabedoria, o trauma é mínimo. Direitos individuais e sociais devem ser mantidos e resguardados. Direito à liberdade de opinião e de imprensa devem ser igualmente respeitados. Também serão respeitados os direitos ao habeas corpus, à presunção de inocência e ao devido processo legal. Os crimes de lesa-pátria deverão ser julgados pela Justiça Militar, sempre com respeito, em todos os casos, a todos os recursos de ampla defesa. Mais importante de tudo, deve ser baixado imediatamente um plano econômico de emergência para a superação da crise. Depois, Feliz Ano Novo.