CARLOS CHAGAS -
Milton Campos, ao renunciar ao ministério da Justiça do governo Castello Branco, produziu uma das maiores lições políticas de todos os tempos, ao reagir ao apelo do primeiro general-presidente para que permanecesse nas funções. Escreveu sobre a diferença entre ele e o presidente, pois dispunha do direito de pedir para sair, por diversas razões e motivos. Castello, não: era o único cidadão brasileiro obrigado a permanecer, quaisquer que fossem as agruras e dificuldades a enfrentar.
Vale o exemplo para o atual presidente. Michel Temer não tem liberdade para saltar de banda. Seu governo pode enfrentar a mais difícil das crises nacionais, colhendo fracassos de toda ordem. A herança recebida no momento em que sucedeu a Dilma Rousseff desanimaria qualquer cidadão. A economia posta em frangalhos, a desorganização verificada em sua base partidária, a incompetência de seus ministros, a falta de apoio nas diversas camadas da sociedade, a péssima repercussão de suas iniciativas políticas – tudo trabalha contra sua permanência no palácio do Planalto.
O problema é que não pode renunciar, apesar de alguns de seus antecessores tivessem cedido à tentação. Primeiro desafio seria o país aferrar-se ao cumprimento dos postulados democráticos.
Mesmo sem o sonho de instituições acordes com nossas necessidades, haverá que seguir adiante, à espera do que os ventos mudem e soprem um fiapo de esperança em meio à conturbação generalizada.
Quem sabe o Congresso se recicle, alterando a postura de deputados e senadores que só pensam em satisfazer seus interesses? As camadas privilegiadas abram parte de suas benesses para as massas desprotegidas? Os ministros, mesmo se não ficar um só, encontrem o caminho do cumprimento de seus deveres? O próprio Michel Temer talvez vislumbrasse a importância de seguir exemplos, mesmo raros, de como dirigir um governo?