O ofício das rendeiras, difundido a partir do final da Idade Média na Europa Ocidental, chegou ao Brasil no período colonial, certamente a partir da colonização portuguesa, espraiando-se sobretudo ao longo do vasto litoral brasileiro a partir do século XVII.
Enquanto na Europa era praticado por moças das camadas mais abastadas da sociedade, aqui acabou se popularizando e se entranhando na cultura popular com grande intensidade, permanecendo como tradição dinâmica que passa entre mulheres da mesma família, em um enlace de saberes minuciosos e matriarcais exercidos de forma coletiva.
Existem diversos tipos de renda, divididas em duas formas mais amplas de técnica de trabalho: os bordados feitos com bilros (peças de madeira com tamanhos e formas variáveis) e os confeccionados com agulhas.
Nos bilros, são enroladas as linhas que serão usadas para fazer a renda. O desenho do bordado é feito picado em papelão, espetado em uma almofada com alfinetes (em outros tempos, os espinhos eram utilizados com este fim, para impedir que a maresia enferrujasse os alfinetes). Dentro dessa grande divisão entre as peças feitas com bilros ou agulhas, vários estilos de renda são encontrados no Brasil: renda filé, renda renascença, renda irlandesa, renda labirinto, etc.
A complexidade do artesanato das rendeiras se manifesta também na existência de inúmeros pontos de bordado. São mais de 100 pontos diferentes, com denominações curiosas: ziguezague, trança, coração, escadinha de Cupido, aranha, mataxim, etc.
(Mulheres rendeiras: gente do Brasil de delicadezas miúdas que, nas bordas do horror, faz da beleza, alternativa de vida e acolhimento de mundo.)
(O Almanaque Brasilidades será lançado em São Paulo, na Tapera Taperá, no sábado, dia 17, a partir das 16:30. Mais cedo, às 14 h, dou uma aula no mesmo espaço sobre encantarias brasileiras)
*Fonte: Facebook / Ilustração: Aldemir Martins. Mulher Rendeira. Texto: Luiz Antonio Simas. Trecho do "Almanaque Brasilidades". p. 142