MIRANDA SÁ -
A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar. (Sigmund Freud)
Dizem que futebol, política e religião não se discute. Na minha opinião é um conceito ilusório, por que todos nós discutimos futebol, política e religião, e a vida seria muito triste sem uma boa discussão entre amigos, de preferência numa mesa de bar…
A ilusão substitui a realidade por um pensamento abstrato. Uma ideia que fica limitada pela imaginação definida por uma palavra antiga, do tempo das valsas de Carlos Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva e Sílvio Caldas: “Devaneio”.
A palavra “Ilusão”, dicionarizada, é um substantivo feminino com o significado de percepção ou entendimento enganoso, ou esperança de conquistar algo desejável. Sua origem vem do verbo latino “illudo”, derivada de uma ampla família de palavras na qual se inclui “lúdico”: divertir-se, recrear-se e também burlar, enganar.
Na língua portuguesa, iludir firmou-se no sentido de causar uma impressão enganosa, que impede o discernimento da realidade. Ser iludido é ser enganado.
É abundante a sinonímia de “ilusão”. Abrange fantasia, ficção, miragem, sonho, utopia e até alucinação. No sentido de engano, temos burla, engano, fantasia, logro e mentira… Suas excelências os casacudos congressistas abusam de falar “equívoco” para amaciar o que denunciam como erro ou tapeação.
A morte de Fidel Castro ressuscita uma ilusão coletiva de uma geração (ou duas gerações latino-americanas?). A minha, por exemplo. É inegável a sua projeção do falecido nos anos 1950/1960, pela coragem de enfrentar uma poderosa ditadura que paradoxalmente contava com o apoio da máfia ítalo-americana, do governo dos EUA e do movimento comunista internacional.
Na época, Cuba era conhecida como “o cabaré das américas”. Jogo, prostituição, lavagem de dinheiro, fábrica de documentação falsa e livre trânsito para toda espécie de narcótico eram a marca registrada de um regime corrupto.
Uma varredura sobre esse lixão de costumes e comportamentos seria aplaudida por todos os jovens sonhadores daquela época, tal e qual temos no Brasil de hoje a Lava Jato fazendo uma faxina para nos livrar dos bandidos que institucionalizaram a corrupção no País.
É uma pena que lá, na heroica Cuba de Jose Marti a revolução fidelista não tenha passado de uma grande ilusão, primeiro, por se despir do humanismo ao estabelecer o “paredón” e fuzilar a torto e direito, misturando mafiosos, capitalistas, políticos, religiosos e até homossexuais, somente por serem homossexuais.
E assistimos uma brutal agressão à liberdade, impondo uma ditadura que já dura 60 anos. Democracia lá é só um nome escrito nos muros. E, para dizer que não falei de flores, um mérito que a disciplina ditatorial estabeleceu: a educação e os serviços de saúde públicos de qualidade.
Se isto sobrepesar na biografia de Fidel, retiramos 25% dos terríveis males atribuídos a ele, supressão da liberdade, baixo padrão de vida, estado policialesco e atraso de 50 anos na economia e no avanço tecnológico da Ilha. Restam, assim, 75% de ilusão!