Por ALBERTO DINES - Via Observatório da Imprensa -
O novo cenário
‘high tech’ do ‘Jornal Nacional’ não consegue camuflar a obsolescência
dos estrategistas que apostaram no novo brinquedo todas as suas fichas
em matéria de criatividade e inovação.
Recolhidas as lantejoulas, encerrada a quermesse televisiva, a paróquia platinada volta ao ramerrão. A próxima festinha – se houver – será em 2065. Se completar um século o império global deverá estar operando em outro ramo. Inevitável: dinossauros, assim como os mosquitos, têm prazos de validade rigorosos, ciclos definidos. Tal como acontece na astronomia, depois de alcançar o zênite qualquer astro ou constelação embica invariavelmente em direção ao nadir.
O balanço da chatíssima festinha dos 50 anos aponta para uma clara fadiga do material. O novo cenário high-tech do Jornal Nacional
não consegue camuflar a obsolescência dos estrategistas que apostaram
no novo brinquedo todas as suas fichas em matéria de criatividade e
inovação. Dentro de seis meses, no máximo, o novo telão será um gadget velho.
A TV Globo não avança em matéria de conteúdo e concepções, tem medo
de mudar essências, teme embarcar no expresso da qualidade e perder o
controle das mudanças. Prefere marcar passo a converter-se em campeã de
saltos. Cada vez que o sistema global esboçou um movimento em direção da
qualidade e consistência de sua mensagem, o próprio sistema aplicou
imediatas reversões. Cada passo aplicado na direção de uma TV adulta
resulta sempre em retrocessos e mais infantilização. O conglomerado
abomina a dialética, tem alergia ao dinamismo.
Primeiras fissuras
É uma tremenda injustiça acusar o Grupo Globo de golpista. Ao
contrário, é intrinsicamente conservador, organicamente comprometido com
a manutenção do status quo. E quanto mais se oligopoliza mais precisa controlar eventuais mudanças.
Isso não significa que as convicções do Grupo Globo sejam
reacionárias – a defesa do meio ambiente, dos direitos das mulheres, dos
programas assistenciais, da reforma da educação, das quotas étnicas, de
privilégios para confissões religiosas e até uma benevolência com o
homossexualismo compõem um ideário minimamente progressista capaz de dar
a impressão de mudança formal sem mudança real.
São exemplares os dois mea culpa relativos a opções não democráticas durante a ditadura militar e embutidos no esperto retrospecto do Jornal Nacional.
Com muito charme, cativante informalidade e bonomia o Grupo Globo vai
aparando arestas, maquiando vexames e reescrevendo a história a seu
favor.
Está no seu direito. E nós no nosso, ao respeitar a dialética
hegeliana e pressentir que esta formidável hegemonia começa a apresentar
fissuras. Voltaremos ao assunto, motivos não faltam.
Leia também



