SEBASTIÃO NERY -
João
Grande, lá na Paraíba, era um tropeiro muito alto e muito forte, de mãos
enormes, pernas arqueadas e botas cravadas de ferro. Levou uma tropa para
Patos, cidade vizinha, depois sentou-se no bar, pediu uma cerveja e ficou ali
olhando a praça e o povo.
Percebeu
que, na calçada em frente, as pessoas iam andando e, de repente, quando
chegavam diante de uma casa, desciam da calçada, davam uns passos na rua,
subiam novamente a calçada e seguiam.
Foi ver o
que era. Era a casa do delegado, que tinha posto uma placa na porta proibindo
qualquer pessoa de passar pela calçada da casa dele, para não fazer barulho,
porque ele gostava de tirar uma madorna, uma soneca, toda tarde.
JOÃO GRANDE
João Grande
ficou indignado. Arrancou a placa e começou a andar na calçada proibida,
batendo forte no chão com suas botas cravadas de ferro. O delegado, irado, saiu
de lá de dentro como uma fera, os olhos esbugalhados, abriu a porta, viu aquele
homenzarrão de botas barulhentas, deu um sorriso amarelo, afinou a voz:
– Boa
taaarde!
João Grande
não disse nada. O delegado também calou e não disse nada. Na calçada, já pronto
para descer, andar pela rua e subir novamente a calçada, como fazia o dia
inteiro, a semana toda, vinha vindo um homenzinho baixinho, pequenininho,
trotando, quase correndo, com um cesto na cabeça, equilibrando numa rodilha de
pano. Quando viu a cara amofinada do delegado, parou, olhou bem para ele e
gritou:
– Olha o
abacaxi!!!!
Nunca mais,
a partir daquele dia, o homenzinho do abacaxi desceu da calçada do delegado. Ele
nem ninguém. João Grande jogou a placa na rua e voltou para sua terra com as
mãos enormes e as botas cravadas de ferro.
EDUARDO
CARDOSO
Em 1969,
logo depois do AI-5, Carlos Petrovich, diretor do Curso de Teatro da
Universidade de Brasília, ocupada e estrangulada pela ditadura, convidou o
saudoso Ariano Suassuna, gênio rebelde de “A Pedra do Reino” e “Auto da
Compadecida”, para uma palestra. O auditório estava cheio de arapongas do SNI.
Suassuna começou contando a história de João Grande.
Esta
semana, o ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, foi apanhado em flagrante
reunindo-se às escondidas, no ministério da Justiça, com um punhado de
advogados dos réus do escândalo da “Operação Lava a Jato”, na roubalheira da
Petrobrás para dar dinheiro ao PT e seus aliados.
Ora, o
processo é uma gravíssima e indispensável operação da Policia Federal, do
Ministério Publico Federal e do Supremo Tribunal Federal para desbaratarem “o
maior escândalo financeiro da historia do pais”. O ministro da Justiça não tem
o direito de estuprar a legalidade para tentar desviar e obstruir o
encaminhamento das atribuições da Policia Federal, da Procuradoria Geral
da Republica, da Controladoria Geral da Republica, do Tribunal de Contas da
União e do Supremo Tribunal.
O ministro
da Justiça precisa respeitar o pais. Se ele quer ser o delegado de Patos
de um século atrás só chamando um tropeiro João Grande para jogar a placa dele
na rua.
JOAQUIM
BARBOSA
Tem razão o
sempre lúcido, equilibrado e bravo ex-presidente do Supremo Tribunal, Joaquim
Barbosa:
– “Nós,
brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a Presidente
Dilma demita imediatamente o Ministro da Justiça.
“Reflita
você: – para defender alguém em um processo judicial, ao invés de usar
argumentos e métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à política”?
E logo a
pior política, com o governo rasgando o processo e a lei?
A LISTA DO
XILINDRÓ
O clássico
do cinema americano, filme de 1993, de Steven Spielberg, chamava-se “A Lista de
Schindler!”. Um poema da bravura humana.
Está
chegando fevereiro. E foi para fevereiro que o Procurador Geral da Republica,
Rodrigo Janot, e o ministro relator da ação no Supremo Tribunal, Teori
Zavascki, prometeram a divulgação da lista dos políticos acusados na Operação
Lava a Jato, por terem foro privilegiado.