27.2.15

O DIA G


REINALDO LEAL -

Eu estudava no Colégio La-Fayette onde hoje é a Fundação Bradesco, na Tijuca, no Rio de janeiro.

No dia em que Getúlio Vargas morreu, os alunos foram dispensados logo após a notícia.

Saíram todos pelos corredores, felizes, gritando:

- Amanhã não tem aula! Getúlio morreu!

Sai triste e cabisbaixo. Tinha apenas doze anos.

Senti o peso histórico do momento.

Lá em casa foi uma choradeira só.

Getúlio fora ditador mas era amado.

Anos depois, quando o meu filho fez doze anos, estreou no Palácio do Catete a peça: O Tiro que Mudou a História de Aderbal Freire Filho e Carlos Eduardo Novaes.

Disse-lhe que ele ia ver no local, com a mesma idade que eu tinha na época, a reprodução do fato que eu tomara  conhecimento à distância.

Partimos para o Catele. Estava lotado.

Tanto insisti que conseguimos entrar.

Como conhecia os locais onde os fatos se deram, fomos nos adiantando.

No momento em que o ator que interpretava Getúlio deu o tiro no seu peito, nós estávamos sentados ao lado da cama.

A TV Manchete nos filmou.

A peça é boa.

Um amigo, que lá estava  quando a tragédia se deu, me disse, que muitas pessoas entraram no quarto e levaram o que puderam de lembrança.

Ele levou a Bula Papal que estava numa parede.

Todo poder longamente continuado acaba não tendo final feliz.

Com Getúlio não foi diferente.

Embora ele tenha sido honesto, os que o cercavam não eram.

Getúio disse que nunca recebeu um só pedido que fosse para o bem do Brasil. 

Todos eram para beneficiar o pedinte ou alguem de sua indicação.

Parece que o Brasil é assim desde o nosso descobrimento.

E nesse aspecto, está infinitamente pior.