REINALDO LEAL -
Sempre morei na
Tijuca.
Quando tinha uns vinte
anos, o Administrador Regional da Tijuca era Paulo Zouain.
Muitos pensam que ele foi o
primeiro. Na verdade teve outro que exerceu o cargo por muito pouco
tempo.
Conheci todos os
Administradores Regionais da Tijuca. Eu mesmo fui um no início dos anos
oitenta.
Posso lhes assegurar que o
melhor de todos foi Paulo Zouain, que recentemente comemorou, com toda a
lucidez, seus 90 anos.
Ele é fundador do Rotary
Clube da Tijuca. Foi lá que eu e a diretoria de um ou dois anos atrás
fizemos-lhe uma homenagem de surpresa.
No seu tempo, o Governador do
então Estado da Guanabara era Carlos Lacerda.
Senão o melhor, um dos
melhores oradores que o Brasil já teve.
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Reinaldo Leal, o Presidente do Rotary e Paulo Zouain. |
Zouain me convidava para
irmos as inaugurações de agências do Banco do Estado da Guanabara - BEG, que
Lacerda acabara de criar. Para mim era uma aula de
oratória.
Lacerda foi o único político
que dava audiência às televisões. As pessoas iam para casa para
ouvi-lo.
Mais de uma vez fui a bailes
com o radinho de pilha no bolso e o fone de ouvido para não perder uma só
palavra.
Foi assim que no quartel em
que servi ao Exército, de prontidão, ouvi o seu discurso que provocou a
renúncia de Jânio Quadros.
Quando foi inaugurada a
agência do BEG da Rua São José, Lacerda fez um belíssimo discurso na escada
rolante.
Depois desceu para falar com
os operários. Com ele mais três pessoas. O Zouain, eu e mais alguém que não
lembro.
No sub solo o chão estava
molhado. pingava água do teto. Tudo ali inacabado. Ele começou a procurar
palavras para se comunicar e acho que não conseguiu. Ele era muito inteligente
mas tinha dificuldade em descer o nível para tentar ser
entendido.
Outra vez, na inauguração do
Centro Médico Heitor Beltrão, na Rua Desembargador Izidro na Tijuca, ele chegou
e rapidamente foi até o fundo do prédio. Voltou em pouquíssimos minutos. Tirou
um caderninho do bolso, escreveu um monte de anotações e disse para alguém que
aquilo tudo tinha que ser corrigido.
Já na campanha de Flexa
Ribeiro, seu candidato a sua sucessão, estávamos no palanque montado na
Praça Sanz Pena à esquerda da rua General Roca, o Flexa, o Zouain e Eu.
O Flexa disse para o Zouain
que precisava ir embora porque tinha cinco pessoas o esperando em casa. Zouain
lhe disse que a Acadêmicos do Salgueiro que estava na General Roca, ia desfilar
para ele. Comunicou que não podia mais esperar e pediu que Zouain o
representasse.
O Salgueiro desfilou para o
Zouain e para mim. Flexa naturalmente que não só por isso, perdeu a
eleição.
Em um comício na Praça Xavier
de Brito, Lacerda veio por não sei quantos metros carregado no alto, passando de
mãos em mãos até ser colocado no palanque pela frente. Por cima. Achei aquilo um
perigo. Alguém poderia ter-lhe feito um atentado.
Lacerda então falou. Entre
ele e eu, à sua esquerda, minha namorada da época. Sua veia do pescoço estufava.
Ele então disse que Negrão de Lima, o candidato de oposição a Flexa, não
era negro. Era branco. E um branco muito ordinário.
Naquela eleição o povo votou
em Negrão, que era do partido de oposição aos militares, achando que estava
votando contra os militares.
Só que Negrão era compadre do
então Presidente, General Castello Branco.
A oposição seria
Flexa.
Como sempre nossa gente é
sempre enganada.
Até
hoje.
Dizem que se a oposição
vencer vai fazer isso e aquilo contra o povo.
Depois que vencem eles é que
fazem.