26.2.15

LEMBRANÇAS DA HISTÓRIA

REINALDO LEAL -

Sempre morei na Tijuca.

Quando  tinha uns vinte anos, o Administrador Regional da Tijuca era Paulo Zouain.

Muitos pensam que ele foi o primeiro. Na verdade teve outro que exerceu o cargo por muito pouco tempo.

Conheci todos os Administradores Regionais da Tijuca. Eu mesmo fui um no início dos anos oitenta.

Posso lhes assegurar que o melhor de todos foi Paulo Zouain, que recentemente comemorou, com toda a lucidez, seus 90 anos.

Ele é fundador do Rotary Clube da Tijuca. Foi lá que eu e a diretoria de um ou dois anos atrás fizemos-lhe uma homenagem de surpresa.

No seu tempo, o Governador do então Estado da Guanabara era Carlos Lacerda.

Senão o melhor, um dos melhores oradores que o Brasil já teve.

Reinaldo Leal, o Presidente do Rotary e Paulo Zouain.
Zouain me convidava para irmos as inaugurações de agências do Banco do Estado da Guanabara - BEG, que Lacerda acabara de criar. Para mim era uma aula de oratória.

Lacerda foi o único político que dava audiência às televisões. As pessoas iam para casa para ouvi-lo.

Mais de uma vez fui a bailes com o radinho de pilha no bolso e o fone de ouvido para não perder uma só palavra.

Foi assim que no quartel em que servi ao Exército, de prontidão, ouvi o seu discurso que provocou a renúncia de Jânio Quadros.

Quando foi inaugurada a agência do BEG da Rua São José, Lacerda fez um belíssimo discurso na escada rolante.

Depois desceu para falar com os operários. Com ele mais três pessoas. O Zouain, eu e mais alguém que não lembro.

No sub solo o chão estava molhado. pingava água do teto. Tudo ali inacabado. Ele começou a procurar palavras para se comunicar e acho que não conseguiu. Ele era muito inteligente mas tinha dificuldade em descer o nível para tentar ser entendido.

Outra vez, na inauguração do Centro Médico Heitor Beltrão, na Rua Desembargador Izidro na Tijuca, ele chegou e rapidamente foi até o fundo do prédio. Voltou em pouquíssimos minutos. Tirou um caderninho do bolso, escreveu um monte de anotações e disse para alguém que aquilo tudo tinha que ser corrigido.

Já na campanha de Flexa Ribeiro, seu candidato a sua sucessão, estávamos no palanque  montado na Praça Sanz Pena à esquerda da rua General Roca, o Flexa, o Zouain e Eu.

O Flexa disse para o Zouain que precisava ir embora porque tinha cinco pessoas o esperando em casa. Zouain lhe disse que a Acadêmicos do Salgueiro que estava na General Roca, ia desfilar para ele. Comunicou que não podia mais esperar e pediu que Zouain o representasse.

O Salgueiro desfilou para o Zouain e para mim. Flexa naturalmente que não só por isso, perdeu a eleição.

Em um comício na Praça Xavier de Brito, Lacerda veio por não sei quantos metros carregado no alto, passando de mãos em mãos até ser colocado no palanque pela frente. Por cima. Achei aquilo um perigo. Alguém poderia ter-lhe feito um atentado.

Lacerda então falou. Entre ele e eu, à sua esquerda, minha namorada da época. Sua veia do pescoço estufava. Ele então disse que Negrão de Lima, o candidato de oposição a Flexa, não era negro. Era branco. E um branco muito ordinário.

Naquela eleição o povo votou em Negrão, que era do partido de oposição aos militares, achando que estava votando contra os militares.

Só que Negrão era compadre do então Presidente, General Castello Branco.

A oposição seria Flexa.

Como sempre nossa gente é sempre enganada.

Até hoje.

Dizem que se a oposição vencer vai fazer isso e aquilo contra o povo.

Depois que vencem eles é que fazem.