CARLOS CHAGAS -
Deu em nada o jantar de ontem entre o ministro Joaquim Levy e a
cúpula do PMDB, na residência do vice-presidente Michel Temer. É claro
que a refeição estava perfeita, como os drinques, antes e depois.
Ressalta-se também a cordialidade entre os comensais. Mas com relação
aos apelos do cacique da política econômica e o maior partido de apoio
ao governo, nada. Ficou evidente que o PMDB não votará favoravelmente às
medidas provisórias que reduzem direitos trabalhistas. Nem as
restrições ao salário desemprego nem o cerceamento às pensões das
viúvas.
Bem que o ministro tentou demonstrar serem exagerados os benefícios
concedidos aos desempregados, assim como a capacidade das mulheres
jovens que perderam o marido de trabalhar depois de um curto período de
luto. Não conseguiu. Para a quase totalidade dos presentes, em meio ao
silêncio do vice-presidente da República, Joaquim Levy não sabe o que é
estar desempregado e nem possui, em sua família, uma viúva sem saber
como alimentar os filhos.
Importa menos saber as razões dos peemedebistas para negar apoio às
maldades do governo. Pode ter sido por conta do descontentamento diante
da formação do ministério. Quem sabe pela frustração por não estarem
sendo atendidos no preenchimento dos cargos de segundo escalão. Até pela
vontade de afirmação da independência do Legislativo. Ou mesmo se, de
repente, acordaram para as necessidades do trabalhador. Tanto faz, pois a
verdade é que não serão aprovadas as propostas de redução de gastos
públicos às custas de mais sacrifício para a população menos favorecida.
Chegou a ser exposta por um deputado a alternativa para o governo
encontrar recursos em outras fontes, como o imposto sobre grandes
fortunas e a taxação maior dos lucros dos bancos. Foi a vez de Joaquim
Levy ficar calado.
Em suma, ficou evidente a derrota das medidas provisórias, tais como
chegaram à Câmara. Quanto a conciliações e composições em torno de
números menos agressivos, marcaram outro jantar…
A MAIOR DAS VIOLÊNCIAS
Começa esta semana a campanha da presidente Dilma para recuperar a
popularidade perdida. Fora os sucessivos anúncios que a Petrobras
fartamente distribui pelos meios de comunicação, Madame percorrerá o
país distribuindo benesses, inaugurando obras e desdobrando-se em
pronunciamentos a respeito das excelências de seu governo.
Melhor faria se partisse da premissa de ser a pobreza a maior das
violências. Torná-la visível seria um bom ponto de partida. Jamais
escondê-la.