Por LUIS NASSIF - Via Jornal GGN -
O editorial do jornal O Globo de ontem é claro. O
interesse maior não é o de punir malfeitos, prender corruptos e
corruptores: é mudar o sistema de partilha do pré-sal. Trata-se de uma
bandeira profundamente rentável, a se julgar pelo afinco com que
veículos se dedica a ela.
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A geopolítica do petróleo não é uma mera teoria da
conspiração: é um dado da realidade, por trás dos grandes movimentos
políticos do século, especialmente em países que definiram modelos
autônomos de exploração do petróleo. E as mídias nacionais sempre
tiveram papel relevante, não propriamente por convicções liberais e
internacionalistas.
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Para o editorial, o Globo certamente teve o auxílio do
ectoplasma de algum editorialista dos anos 50. Os bordões são os mesmos:
"O PT, ao reagir ao petrolão, ressuscita um discurso da década de 50 e
recoloca o Brasil na situação de antes da assinatura dos contratos de
risco, no governo Geisel: o petróleo era “nosso”, mas continuava debaixo
da terra. Agora, do mar".
Valia nos anos 50, antes que a Petrobras conseguisse
sucesso nas suas prospecções. É uma piada em 2015, quando a empresa
consegue extrair 700 mil barris diários do pré-sal. Aliás, é o segundo
erro do jornal. O primeiro é supor que a Petrobras ou o sistema de
exploração do petróleo é bandeira do PT.
Trata-se de um pilar de política industrial e social que vai muito além dos jogos partidários.
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As propinas pagas são caso de polícia. Corruptores e
corrompidos precisam ser identificados, processados e presos. Pretender
atribuir a corrupção à empresa ou ao modelo de exploração do pré-sal é
malandragem política.
Diz o editorial: "Se a Petrobras, em condições normais,
já tinha dificuldades para tocar esse plano de pedigree “Brasil Grande”,
agora é incapaz de mantê-lo. Não tem caixa nem crédito para isso. Não
há como sustentar o modelo".
A empresa enfrenta problemas momentâneos de caixa, que
poderão ser resolvidos com desmobilizações, com a entrada em operação de
vários dos investimentos e assim que houver um mínimo de competência
política do governo, para deslindar o novelo policial-financeiro criado
pela Lava Jato.
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Ao longo das últimas décadas, os avanços proporcionados
pela Petrobras foram muito além da atividade principal, de tirar
petróleo. Hoje em dia, a prospecção em águas profundas é a única
tecnologia global na qual o país se destaca, ao lado da aeronáutica.
A política de conteúdo nacional fortaleceu toda uma
cadeia de fabricantes de máquinas e equipamentos. O transporte de
combustíveis e as plataformas permitiram recriar a indústria naval. A
pesquisa brasileira avançou uma enormidade através das pesquisas em rede
com as principais universidades nacionais.
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Nos últimos anos, a Petrobras foi vítima de três
atentados. Do PT, ao permitir e ampliar a permanência de esquemas de
financiamento de campanha, destruindo os sistemas internos de controle
da empresa. Do governo Dilma, ao conferir responsabilidades inéditas à
empresa e, ao mesmo, tirar-lhe o oxigênio com os sub-reajustes
tarifários. E, agora, da oposição e da velha mídia, valendo-se do álibi
da corrupção para bancar campanhas pouco nítidas para seus
patrocinadores.