CARLOS CHAGAS -
Mais infeliz não poderia ter sido a presidente Dilma ao afirmar, na
semana que passou, “eleição nova, governo novo, equipe nova”. A intenção
parecia de tranqüilizar o empresariado a respeito da substituição de
Guido Mantega no ministério da Fazenda, mas o míssil sobrevoou a
Esplanada dos Ministérios, deu algumas voltas e acabou caindo no palácio
do Planalto. Por que não completar com “presidente nova”? É a
conclusão lógica do comentário.
Na realidade, o período Dilma acabou. Menos por sua postura
arrogante, agressiva e intolerante, mais porque permaneceu aferrada ao
assistencialismo, favorecendo segmentos desfavorecidos da sociedade como
se distribuísse esmolas, sem perceber que a maioria exigia
participação. Distribuir benesses não altera a relação de
subserviência entre as massas e o poder.
O resultado aí está: o povão quer direitos, não favores. Conquistas,
não favores. Acrescente-se o vazio em que foi deixada a classe média,
entregue à própria sorte. As elites, sempre de presas e garras afiadas,
não se acomodaram à prática de pedir e receber, imaginando-se em
condições de impor. O governo Dilma perdeu os três pilares em que
imaginava assentar-se, flutuando sobre eles sem sustentação.
Eleições novas, nessas condições, só podiam redundar em governo novo e
equipes novas, mas como admiti-los com uma presidente velha? Daí a
ocupação do espaço por Marina Silva, que a ninguém será dado imaginar
dispor de meios para inverter a equação. Apenas, ela apareceu como
diferente, conquistando por isso o benefício da dúvida. Ocupou o espaço
sem a certeza de poder preenche-lo, mas favorecida pela evidência de
que nada mudaria com a permanência da Dilma. Muito menos com a
meia-sola de Aécio Neves.
Daqui até outubro, no começo e no fim do mês, inusitados poderão
acontecer. Mesmo assim, quando os ventos começam a soprar, a cautela
indica que custarão a se interromper. Quanto a saber se trarão mudanças,
a ninguém será dado. Integrar as massas, a classe média e as elites num
projeto único parece missão impossível. Coisa que o Lula deu a
impressão de realizar mas não conseguiu.
No estertor de seus sonhos, Dilma agora promete para o inviável
segundo mandato a convocação de um Conselho de Desenvolvimento ligado
diretamente à presidência da República. Fica a pergunta: por que não o
reuniu durante o primeiro mandato?
PIOR DO QUE O ATUAL, SÓ O PRÓXIMO
Dizia o saudoso dr.Ulysses que pior do que o atual Congresso, só o
próximo. Assistir os programas de propaganda eleitoral gratuita pode ser
um sacrifício ou uma pausa para a constatação de que a comédia supera a
tragédia.