CARLOS CHAGAS -
Provas, não há. Provavelmente, nem haverá. Eles são espertos e
malandros. Mas é impossível que alguém não de preocupe, na imprensa, nas
universidades, na Polícia Federal ou na Agência Brasileira de
Inteligência, em juntar os fios desse enigma que nos assola desde junho
do ano passado, quando se multiplicaram ao infinito as manifestações de
protesto e de violência perpetradas por sucessivas parcelas da
sociedade contra as sofríveis e abomináveis estruturas institucionais do
país. Não que motivos inexistissem, até fartos, justificando a
indignação geral diante da falência do poder público. Mas dá para
desconfiar das origens dessa crescente onda de protestos, depredações,
greves, paralisações e desordens repetidas entre nós.
Teria a sofrida massa popular apenas despertado da letargia de
décadas diante de governos e de entidades variadas da sociedade civil,
nas quais inutilmente continuamos a depositar queixas e esperanças? Na
Física, nenhum efeito registra-se sem causa. Na Sociologia e na Política
também. A conclusão inicial é de que estímulos devem ser detectados
para acelerar essa evidência de desagregação nacional. Internos e
externos.
De um ano para cá tem ganhado as ruas montes de categorias e grupos
sociais protestando contra falhas, omissões e excessos do poder público,
exigindo no espaço de doze meses iniciativas há décadas descuidadas
pelo estado nacional e por seus supostos beneficiários, importando menos
a que partidos,ideologias ou filiados pertençam uns e outros. De graça,
esses fenômenos não costumam acontecer.
Tem azeitona nessa empada, sem que se atenuem ou desculpem as
cobranças, de um lado, e de outro a inação, a incompetência ou a
corrupção de quantos esperam e de quantos se propõem a livrar o país e
nossas agruras, pois apenas despencamos cada vez mais para as
profundezas, sejam do PT, do PSDB, do PMDB ou estejam fardados, de terno
ou macacão.
Sempre foi assim, dirão os céticos, mas o problema é que de um ano
para cá inflou-se o germe dos protestos, do inconformismo e da
insurgência do Brasil Real contra o Brasil Formal. A confusão e a
desordem podem explicar-se por nossas deficiências seculares. Só que não
dá para entender porque, de repente, caracteriza-se o caos em nosso dia
a dia. Todos os setores da sociedade insurgem-se a um só tempo, numa
ação eivada de reclamos naturais,mas, também, de excessos
injustificáveis.
Quem nos despertou? Que força estranha vem despertando tamanha
rebelião na placidez a que estávamos acostumados faz tempo? Parece
bobagem argumentar que recebendo mais do que recebia, a população exige
mais ainda. Haverá motivo para que, da noite para o dia, a acomodação
tenha virado indignação incontrolável, não havendo sinais de arrefecer
tão cedo.
É bom tomar cuidado. Podem estar vindo de fora os estímulos para que a
ordem canhestra do passado se tenha transformado em desordem
desordenada de hoje. A quem interessa a confusão que só nos prejudica?
Traduzindo todas essas inúteis considerações: existem nações de
organizações internacionais interessadas em manter ou mesmo em fazer
retroceder o Brasil à condição de colônia destinada a servi-las sem o
sonho da libertação. Basta verificar que cada vez mais nos tornamos,
como no passado, exportadores de matérias primas e importadores do que a
industria produz lá fora. Claro que auxiliados por parte de nossas
elites econômicas e políticas. Para isso, nada melhor do que estimularem
a desintegração aqui dentro. Quanto mais para eles nos transformarem
numa nação em frangalhos, melhor…



