3.1.17

ÍNDIO DISPUTARÁ A PRESIDÊNCIA DO SENADO COM O APOIO DE JUSTIÇA

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Só mesmo a audácia de quem tem infinita ambição e uma extraordinária convicção de que é capaz de enganar a todos, em todo o tempo, e em qualquer lugar pode justificar a audácia com que o senador Eunício de Oliveira (foto), do PMDB, o Índio da debochada lista da Odebrecht, decidiu apresentar-se como candidato à presidência do Senado. Certamente ele conta com o apoio de Justiça, o Renan da lista, e de Caju, o atual líder do Governo Romero Jucá, que formam uma espécie de trio da infâmia.

Há muito que se fala em decadência da representação parlamentar brasileira. A cada novo ciclo ela piora. Entretanto, nunca se supôs que a degeneração pudesse chegar a um ponto tão baixo e com essa estranha aparência de normalidade. Não é difícil explicar esse último ponto. Bombardeada por notícias de corrupção a cada dia, saturada de denúncias infames, a sociedade, conduzida pela imprensa sensacionalista, passa a achar normal o absurdo. E é disso que se aproveitam os canalhas.

Temos também achado normal a forma como a chamada força tarefa comanda as investigações da Lava Jato na sua articulação com o Supremo Tribunal Federal. Há uma clara seletividade nos indiciamentos e um propósito deliberado de preservar o PSDB. Não que os demais partidos não sejam culpados. Mas seria um fenômeno extraordinário que apenas o PSDB, na carga genética brasileira, fosse um partido puro. É como achar que corrupção existe apenas no Brasil, e em nenhuma outra parte do mundo.

A manipulação de denúncias pelo procurador geral da República é igualmente suspeita. Na sua relação com o Supremo ela cria a oportunidade de negociações com indiciados transformados em verdadeiros reféns. Por que, afinal, soltar a lista dos Índios, dos Angorás, dos Muito Feios, dos Justiça, e de tantos outros, para deixar o indiciamento dormindo nas mãos de um ministro do Supremo por prazo indefinido, sugerindo uma oportunidade de criar verdadeiros reféns do Judiciário?

Isso tudo está muito errado, mas no meio de tanta lama é revoltante ver personagens como Índio, Caju, Justiça e o arisco Angorá ainda pretendendo continuar na posse da presidência do Senado ou da República como se nada tivesse acontecido nas últimas semanas no país. Se tivesse um mínimo de pudor, ou um pouco de vergonha na cara, Eunício deveria estar escondido em alguma oca no Ceará e não tentando cabalar votos. Que ele não envergonhe a casa com a própria vergonha.

Quanto a Justiça, é bom que se saiba que nenhuma atitude assumida por Renan Calheiros nos últimos tempos numa suposta defesa da honra do Senado é autêntica. Tudo é combinado com o Supremo, o Supremo combina com a mídia, e a mídia combina com a banca e os interesses internacionais. Debaixo de seus 13 processos não julgados, Justiça é um refém. Daí sua pressa em colocar em votação projetos que agradam a banca, como a emenda 55/241, e tirar de votação os que desagradam a banca e aos justiceiros vendidos de Curitiba, como a lei do abuso de autoridade.

A candidatura de Índio, ou Eunício, também ele um refém do Supremo, é uma tentativa de dar continuidade a esse esquema comprado a preço de ouro, como mostra a lista da Odebrecht. Aviso aos demais senadores: se não se conformarem com isso, busquem um candidato decente, incorruptível, que faça seu o dever de uma cruzada contra os vendilhões do templo da República. O país vale muito, não pode ser vendido. E num colégio restrito como o Senado não é difícil identificar os honrados e os movidos exclusivamente por interesses materiais. Estes são difíceis, mas não impossíveis de recuperar. Os primeiros levantarão o estandarte da honra do Congresso.