4.6.14

Expansão da Rede Globo Ameaça 521 famílias no Horto

Via Mídia Ninja -

Centenas de pessoas foram às ruas pelo direito à moradia no bairro Horto.
"Eles que são os invasores, eu já estava aqui muito antes" - as palavras de dona Zuleide Neves ilustram bem a luta. No auge dos seus 84, ela participou da manifestação "Via Crucis do Horto" que aconteceu domingo, ao redor do Jardim Botânico, Zona Sul carioca. 521 famílias vizinhas estão sendo ameaçadas de despejo na área, com o argumento de dar lugar a novas instalações do parque, segundo mais novo projeto de expansão - que inclui novo centro de visitantes, orquidário e banheiros. A Rede Globo possui sede no mesmo local e demonstra planos de expansão de território.

Hoje o processo histórico de ocupação da área está sendo colocado como invasão, caracterizado como favelização do terreno pertencente à União. Com três prédios no bairro, a emissora prepara-se para dar início a mais construções. "Mudou muito desde que eles vieram, querem mais é tirar as pessoas daqui", comenta Dona Mariana Costa, que vive há mais de 40 anos do Horto.

Vestidos de camisetas com escritos "Fora Globo, Fica Horto", os moradores expressam sua indignação.A atual sede foi cedida à Globo nos anos da ditadura e construída onde antes existia o Clube Musical, um posto de saúde e residências. Afirma Laura (18), que ainda complementa: "o que eles querem é fazer um Projac da Zona Sul.".

O grupo Globo deixa seu posicionamento claro em reportagem do dia 23 sobre a expansão do Jardim Botânico. Segundo as matérias as casas do local "trata-se de ocupações que sequestram um terço do tamanho original do Jardim (1,325 milhão de metros quadrados)". Na mesma matéria, a presidente da instituição, Samyra Crespo, classificou como lenta a transferência das famílias. A área da Secretaria do Patrimônio da União já foi cedida ao Jardim Botânico no ano passado e são 117 ações de reintegração de posse expedidas.

A primeira desocupação aconteceu no dia 05 de maio, na sede do clube Clube Caxinguelê, construído por servidores aposentados e frequentado principalmente pelos moradores locais. "A gente acordou de manhã e tinha um monte de polícia, 50 pessoas na rua a maioria idoso, em uma ação violenta que ninguém entendia. Teve bala de borracha, idoso passando mal, feridos e gás de pimenta", relata André Bezerra (42). O dedetizador e lutador de jiu jitsu participou da passeata hoje com sua filha Isadora de três anos pedindo pela permanência das famílias.

A realidade de Zuleide se repete em outras histórias dos que nasceram e cresceram no bairro. No período colonial o Horto recebeu seus primeiros habitantes: escravos trazidos para cultivo de cana e café e trabalhadores da Fábrica de Pólvora e do Jardim Botânico. Seus descendentes formam o núcleo da comunidade atual, nos terrenos cedidos na época pela própria administração do Jardim.

Durante o ato centenas de pessoas carregaram cruzes com nomes das famílias em defesa de seus direitos à moradia.

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