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| Centenas de pessoas foram às ruas pelo direito à moradia no bairro Horto. |
"Eles
que são os invasores, eu já estava aqui muito antes" - as palavras de
dona Zuleide Neves ilustram bem a luta. No auge dos seus 84, ela
participou da manifestação "Via Crucis do Horto" que aconteceu domingo, ao redor do Jardim Botânico, Zona Sul carioca. 521
famílias vizinhas estão sendo ameaçadas de despejo na área, com o
argumento de dar lugar a novas instalações do parque, segundo mais novo
projeto de expansão - que inclui novo centro de visitantes, orquidário e
banheiros. A Rede Globo possui sede no mesmo local e demonstra planos
de expansão de território.
Hoje o processo
histórico de ocupação da área está sendo colocado como invasão,
caracterizado como favelização do terreno pertencente à União. Com três
prédios no bairro, a emissora prepara-se para dar início a mais
construções. "Mudou muito desde que eles vieram, querem mais é tirar as
pessoas daqui", comenta Dona Mariana Costa, que vive há mais de 40 anos
do Horto.
Vestidos de camisetas com escritos
"Fora Globo, Fica Horto", os moradores expressam sua indignação.A atual
sede foi cedida à Globo nos anos da ditadura e construída onde antes
existia o Clube Musical, um posto de saúde e residências. Afirma Laura
(18), que ainda complementa: "o que eles querem é fazer um Projac da
Zona Sul.".
O grupo Globo deixa seu posicionamento
claro em reportagem do dia 23 sobre a expansão do Jardim Botânico.
Segundo as matérias as casas do local "trata-se de ocupações que
sequestram um terço do tamanho original do Jardim (1,325 milhão de
metros quadrados)". Na mesma matéria, a presidente da instituição,
Samyra Crespo, classificou como lenta a transferência das famílias. A
área da Secretaria do Patrimônio da União já foi cedida ao Jardim
Botânico no ano passado e são 117 ações de reintegração de posse
expedidas.
A primeira desocupação aconteceu no
dia 05 de maio, na sede do clube Clube Caxinguelê, construído por
servidores aposentados e frequentado principalmente pelos moradores
locais. "A gente acordou de manhã e tinha um monte de polícia, 50
pessoas na rua a maioria idoso, em uma ação violenta que ninguém
entendia. Teve bala de borracha, idoso passando mal, feridos e gás de
pimenta", relata André Bezerra (42). O dedetizador e lutador de jiu
jitsu participou da passeata hoje com sua filha Isadora de três anos
pedindo pela permanência das famílias.
A
realidade de Zuleide se repete em outras histórias dos que nasceram e
cresceram no bairro. No período colonial o Horto recebeu seus primeiros
habitantes: escravos trazidos para cultivo de cana e café e
trabalhadores da Fábrica de Pólvora e do Jardim Botânico. Seus
descendentes formam o núcleo da comunidade atual, nos terrenos cedidos
na época pela própria administração do Jardim.
Durante o ato centenas de pessoas carregaram cruzes com nomes das famílias em defesa de seus direitos à moradia.
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