SEBASTIÃO NERY -
Rio de Janeiro – Era um rapaz magricela, calva longa e olhar triste de seminarista de castigo, as mãos soltas na ponta dos punhos, como balões vazios, e um pescoço longo, muito longo entre Modigliani e o gogó da ema da praia de Pajuçara em Maceió.
Duas vezes vi Marco Maciel, presidente da Câmara, em pânico, na crise de abril de 1977. Quando Francelino Pereira chegou ao Planalto dizendo que a situação era gravíssima, foi ao gabinete dele, trancaram-se. Lá de fora, pela vidraça, vi Marco Maciel bater as mãos na mesa, esmurrar os joelhos, pular na cadeira como numa sela de potro bravo. Depois, foi na volta do encontro com o Presidente, quando lhe foi comunicado o recesso do Congresso, estava pálido, lívido, o rosto como cera, e o suor correndo fino pelas têmporas. Quando Célio Borja, sibilino e cortês, lhe passou a presidência da Câmara, abraçou-o:
- Eu quero que Deus o preteja. Marco.
E tem protegido!
Mendes de Barros, ex-deputado, candidato do MDB ao Senado em 1970 e Richelieu da oposição de Alagoas, organizou na Assembleia Legislativa um Círculo de Estudos Políticos com Teotônio Vilela, Marco Maciel, Divaldo Suruagy, Marcos Freire Carlos Castelo Branco, Carlos Chagas e outros.
No dia em que Marco Maciel chegou a Maceió, Mendes de Barros estava doente. Guilherme Palmeira, candidato da Arena ao Governo e amigo dos dois, levou Marco para visitar Mendes. Tocam a campainha, o filho de Mendes, Antonio, vê Marco com seus quase dois metros de magreza e finura, corre até o quarto:
- Painho, o mapa do Chile está aí com o Guilherme.
Marco Maciel, Guilherme Palmeira e Jorge Bornhausen, senadores do PDS, começaram a reunir-se, em 1984, para organizar a Frente Liberal, uma dissidência do PDS destinada a apoiar a candidatura de Tancredo Neves a presidente da República, contra Paulo Maluf.
Aureliano Chaves, vice-presidente de Figueiredo, logo assumiu a liderança do grupo. Um dia, marcaram uma reunião com Ulysses Guimarães para discutirem a formação da Ação Democrática, a aliança do PMDB com a Frente Liberal. Quando Ulysses chegou, tomou um susto. Aureliano tinha levado um gravador e posto sobre a mesa, ligado. Era o Juruna mineiro.
Mais no fim do ano, antes de o Colégio Eleitoral reunir-se, em janeiro, a Frente Liberal, já formada, fez uma reunião para acertar quem iriam propor a Tancredo como vice-presidente e quais ministérios iriam reivindicar.
Marco Maciel, o primeiro sugerido pelo grupo, dizia que não queria ser vice. Não convencia muito, Sarney, o segundo, também dizia, mas não convencia nada. Resolveram tratar antes dos ministérios. Marco Maciel propôs pedirem primeiro o da Educação. Sarney foi contra. Era um “abacaxi”, cheio de armadilhas, professores reivindicando e estudantes fazendo greves.
Preferia o da Previdência, que “tinha recursos e bandeiras sociais”. Marco não concordava, o debate continuava.
De repente, Sarney saiu para ir ao banheiro. Palmeira foi atrás. Enquanto Sarney fazia xixi, Palmeira encostado na porta, catequizava:
- Sarney, o Marco quer a Educação para ele, é o sonho dele. E é a única maneira de você ser o vice.
Sarney voltou rápido e defendeu o ministério da Educação. Para Marco Maciel. E a vice caiu sobre a cabeça de Sarney como uma tonsura. Sarney saiu para vice, Marco Maciel para a Educação e Aureliano para Minas e Energia. Sarney foi feito vice-presidente em um xixi do PFL.