LUIZ ANTONIO SIMAS -
A história do Botafogo de 1977/78 - época do Time do Camburão - é impagável. O Camburão merece um livro (está mais que citado no trabalho que faço sobre o Maracanã).
A ideia do apelido - Time do Camburão - é atribuída ao radialista Denis Menezes, em virtude da fama de rebeldes e contestadores que alguns jogadores botafoguenses de 1977 e 1978 tinham: Rodrigues Neto, Búfalo Gil, Dé Aranha, Paulo César Caju, Mário Sérgio, Manfrini, Nilson Dias, Renê, Perivaldo, Bráulio, Ubirajara Alcântara, dentre outros. Segundo o jornalista Roberto Porto, “o Time do Camburão passou a integrar a história do Maracanã como aquele que reuniu o maior número de nômades que o futebol brasileiro tem notícia. Pelo menos até os dias atuais.”
Diante do perfil aparentemente incontrolável da equipe, o presidente Charles Borer resolveu contratar para a comissão técnica do clube, depois de achar que os jogadores tinham entregado um jogo contra o Bonsucesso, dois disciplinadores: os delegados Luiz Mariano e Hélio Vigio, Homens de Ouro da polícia, notáveis por prender ou matar bandidos famosos, e membros da Scuderie Detetive Le Coq. Borer achou que a turma do esquadrão da morte enquadraria o time.
Achou errado.
A Scuderie Le Cocq foi fundada em 1965, com o objetivo de vingar a morte de Milton Le Cocq, detetive de polícia do estado do Rio de Janeiro e ex-integrante da guarda pessoal de Getúlio Vargas. Le Coq foi morto por Manoel Moreira, conhecido como Cara de Cavalo, bandido que atuava na Favela do Esqueleto, nos arredores do Maracanã, na década de 1960. Le Coq vendia proteção aos banqueiros do jogo do bicho para evitar assaltos aos pontos da jogatina.
A morte mobilizou diversos policiais e a caçada a Cara de Cavalo parou a cidade. O bandido foi encontrado e morto poucos dias depois. Segundo o laudo pericial, mais de cem tiros foram disparados de diversas armas contra Cara de Cavalo; 52 balas atingiram o morto. Luiz Mariano e Hélio Vígio, tinham orgulho em contar como participaram da caçada ao Cara de Cavalo. “Fui eu que matei”, costumava dizer Luiz Mariano em diversas entrevistas. A Le Cocq transformou-se em associação, ganhou a fama de atuar como um esquadrão da morte e chegou a reunir sete mil associados.
Luiz Mariano, segundo Paulo César Caju – em depoimento ao cineasta Lucio Branco para o documentário “Barba, Cabelo e Bigode” – na primeira preleção chamou os jogadores de bandidos, vagabundos e indisciplinados. Dé Aranha lembra que Mariano ameaçou dar porrada e, em último caso, tiro nos jogadores. Caju, ainda segundo Dé, liderou a rebelião do time contra o delegado, se recusando a continuar escutando Luiz Mariano e ainda chamando o delegado de "boca de sabão em pó", já que em seus discurso de apresentação ameaçando dar porrada e tiro nos jogadores, Mariano começou a babar.
O fato é que Luiz Mariano não emplacou como técnico, não conseguiu enquadrar a turma do camburão e acabou virando supervisor. Zagallo assumiu a equipe, que ficou 52 jogos invicta, com 31 vitórias e 21 empates. O Time do Camburão era bom pra cacete e formado por uma turma que não queria ser gado de dirigente de futebol.
Segundo ainda Roberto Porto: "Pelo que estou informado, os ânimos só ficavam ligeiramente exaltados nas enfadonhas viagens de ônibus para Campos e Volta Redonda. Para matar o tempo, única e exclusivamente o tempo, é bom que se frise, alguns jogadores viajavam armados. E tal qual nos filmes de caubói do cinema americano, quando a caravana alvinegra passava por uma pequena cidade, da janela do coletivo os jogadores disparavam seus trabucos para o alto, numa espécie de saudação às comunidades."
Caju nega isso, e afirma que o único que chegou a dar tiro foi Mário Sérgio.
Abaixo, a sensacional entrevista de Dé Aranha para o Papo do Lobo sobre o Camburão. Imperdível! Repito: Imperdível!
Fonte: Facebook