10.2.19

BILHETE PARA JORGE AMADO

GERALDO PEREIRA -


Jorge:

Mando notícias do Brasil, a fim de atualizá-lo, com relação à acontecimentos passados e presentes. O que não falta é novidade. Algumas boas, outras nem tanto.

Os teus companheiros, que faziam parte da Bancada Comunista, eleitos em 02 de dezembro de 1945, todos já embarcaram. Não sei se você encontrou João Amazonas por aí, ele foi o último a fazer essa viagem sem retorno.

Paulo Dantas, também está aí. Sempre o visitava, numa dessas visitas, notei que ele estava aborrecido com você, com o teu livro de memórias “Capitão de Longo Curso”, o livro estava, com páginas anotadas, sublinhado, cheias de observações, sobre o autor e a obra. Quem manda você não o citar. Salvei-o da lata de lixo.

Jorge, certo dia, entrevistando Abguar Bastos, em sua casa contou-me ele, que, estando na chefatura de polícia, do Rio de Janeiro - o terrível e violento reduto policial- onde Filinto Muller, pontificava, prendendo, torturando e matando muitos inimigos da ditadura de Getúlio, ouviu alguém gritar: “Deputado Abguar Bastos, Deputado Abguar Bastos, eu sou Jorge Amado, eu sou Jorge Amado”. Não sabias, que ele também estava caminhando para prisão. Não sei se você ficou mais tempo preso do que ele. Abguar amargou dois anos, no regimento Caetano de Farias, da PM do Rio de Janeiro, em cujo local, já se encontravam João Mangabeira, Domingos Velascos, Café Filho, Otávio da Silveira, e o senador Abel Chermont. As únicas vozes que se ergueram na Câmara dos Deputados e do Senado, quando Getúlio fechou essas casas.

Com o golpe, Filinto Müller ficou muito feliz e satisfez seu apetite sanguinário. Não tendo recebido ordens para assassinar Luís Carlos Prestes, quando da sua prisão, ocorrida no Bairro do Meyer, na Rua Honório, no Rio de Janeiro, em 1936, dele se vingou, entregando sua esposa, Olga Benário, grávida de 7 meses, a fim de ser assassinada nos Campos de concentração da Alemanha Nazista. É bom lembrar, que o Capitão Filinto, foi expulso da Coluna Prestes, por roubo e covardia, segundo o depoimento, que me foi prestado pelo General Emílio da Costa Miranda.

Jorge, se encontrares o Nabor, diz a ele que, estamos com muita saudade, e que o nosso grupo, que se reunia todos os sábados, na Barão de Itapetininga, quase todo já embarcou. Há mais de quinze anos não vejo ninguém.

Manda notícias, do Darcy Ribeiro, Ênio Silveira, Niemayer, Barbosa Lima, Prestes. Eles estão bem, aí no céu? É no céu que eles estão?

A coisa aqui, está mais ou menos assim: um capitão do Exército, eleito deputado por cinco mandatos, pelo Rio de Janeiro, se elegeu presidente da República, o vice é um General, outros militares, também estão ocupando postos no primeiro time. É voz corrente, que o País está marchando para Direita. Faço votos que o novo presidente seja muito feliz, se recupere definitivamente da facada que recebeu na campanha eleitoral. Seu nome é Jair Bolsonaro.

Pessoalmente, acredito em milagres. Já recebi tantos. Agora este para consertar o Brasil, é preciso ser patriota, com P maiúsculo, ter muita coragem e muita disposição para enfrentar a banqueirada nacional e internacional, que nos rouba diariamente.

Maria Lúcia Fatorelli, essa mulher extraordinária, que entra para a história do Brasil, da sua libertação, como uma das melhores filhas, que a Nação brasileira produziu, desde o seu descobrimento, se fossemos um País sério, de patriotas, dentro e fora das Forças Armadas, dentro e fora dos Três Poderes, essa brava mulher estaria usando diariamente, em cadeia nacional, a televisão, para afirmar o que ela afirmou no dia 08 de outubro, numa audiência, no Supremo Tribunal Federal, durante alguns minutos, chamando atenção dos ministros, para os crimes, que se vêm cometendo contra a Nação Brasileira, levando-a a pagar anualmente 48 a 50%, do seu orçamento.

Pagamentos que nos últimos anos chegaram próximos à casa de um trilhão de reais, e, em 2016, chegam a 1 trilhão, cento e trinta bilhões, 149 milhões, seiscentos e sessenta e sete mil, novecentos e oitenta e um reais, o que representa o pagamento diário de três bilhões e duzentos milhões de reais. É quanto a Nação brasileira paga todos os dias, para abater os juros da dívida.

Será que os comandantes, das Forças Armadas, os ministros do Supremo Tribunal Federal, e demais órgãos jurídicos, será que o Poder Legislativo, deputados e senadores, será que o Poder Executivo, Presidente da República e seus ministros, têm conhecimento desses dados?

Por que não ouvir, por que não convocar, essa brava senhora, essa admirável e corajosa brasileira, Dra. Maria Lúcia Fatorelli, para fazer uma exposição minuciosa, uma palestra/debate, como há anos, ela vem fazendo em todo Brasil, chamando à atenção para a necessidade de uma profunda auditoria da divida pública, de nosso país, com autoridade, de quem domina plenamente o assunto, e está, como patriota que é, comprometida com a Nação brasileira e com o seu povo.

Por que o novo presidente não a convoca para uma conversa séria, para uma palestra, um debate, com todo o seu ministério, particularmente com toda sua equipe econômica?

Por que essa brava mulher, há anos e anos clama para ser ouvida e as autoridades não lhe ouvem? Que mistério é esse? Sai presidente, entra presidente, ninguém dá ouvidos à essa respeitável senhora. Ela que é a coordenador da Auditoria Cidadã da Dívida, entidade sem fins lucrativos, que ela dirige, com rara coragem e raro brilho, sediada nas dependências da OAB nacional, em Brasília. Por que o maior problema do Brasil, que é a sua dívida, não se dá conhecimento ao povo?

Por que não utilizar o impostômetro da Dívida, que registre minuto a minuto o total do pagamento diário dos seus juros e instalá-lo, não só no Rio e em São Paulo, mas em Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Belém, e outras capitais.

Jorge, lembrei-me de você, agora pouco, em João Pessoa. Lembrei-me, da sua imensa alegria, quando deputado federal, ao ver aprovado o Projeto de sua autoria, concedendo a Liberdade de Culto, um dos pouquíssimos projetos aprovados da Bancada Comunista. Antes, você deu conhecimento ao Senador Prestes e também aos treze deputados componentes do Partido, eleita em 02 de dezembro de 1945, de que iria apresentar esse projeto, mas que não queria a assinatura deles, uma vez, que corria o risco de não ser aprovado. Você sabia que todo e qualquer projeto, com a assinatura dos componentes da bancada comunista, tinha um caminho certo: a lata do lixo.


Jorge, você, tenho certeza, apresentou esse projeto, a fim de proibir aquilo que era comum na sua cidade de Salvador, quando os seus terreiros eram comumente invadidos pela polícia, que prendia e espancava sem piedade, os ‘Pais de Santo’, como se fossem criminosos.

Hoje, Jorge, a liberdade de culto, é ampla, geral e irrestrita, é liberdade de culto e tudo mais... o faturamento de algumas igrejas é coisa de louco. Os seus líderes estão riquíssimos. Estou sempre me lembrando de você, toda vez que vejo os palácios luxuosos, suntuosos, que sediam essas entidades, como os que vi nas cidades de Recife e João Pessoa. De São Paulo, então, nem precisa falar... não sei se você tem prestígio Jorge, fala com São Pedro, vê se ele abre a porta aí e deixa você ver o Templo de Salomão, aqui no bairro do Brás!

Jorge, quem está chegando aí e o premiadíssimo cineasta, nosso estimado Nelson Pereira dos Santos. Como você, ele, também, era membro da Casa de Machado de Assis. Há meses o procurei na Academia, pois precisava fazer um artigo, com os discursos de boas-vindas, que você fez, quando da chegada de Dias Gomes, e também a resposta deste. Nelson muito atencioso, mandou-me um exemplar, encadernado, com esses discursos, e outros também.

Fiquei surpreso com o que você falou sobre Adonias Filho. Tinha-o em conta, de um intelectual que serviu à ditadura. Você fez com que eu desprezasse essa impressão. Gostei.

Jorge, não sei se é falta de coragem, ou de patriotismo, das nossas autoridades, para enfrentar a gangue internacional, dona do mercado, esse tal mercado é dirigido por ela. Ela, a dívida externa, é quem dá as ordens, ela é quem determina, define os rumos da política econômica, de cada país, como o nosso. Apoderando-se, safadamente, das nossas riquezas, nos roubando há muitas décadas, sem que nenhum presidente civil ou militar, de direita ou de esquerda, acionasse a sociedade para se unir, numa campanha nacional, igual àquela, que sacudiu o Brasil: “O Petróleo é Nosso”, da década de 50, quando esse mesmo mercado, dizia que nós não tínhamos petróleo. Jorge, não sei se você acredita em Deus. Eu acredito. Para resolver os nossos problemas só Ele!

Dá um abraço, no nosso caboclinho querido, Silvio Caldas, assim como, no Nelson Cavaquinho, Nelson Gonçalves, Cartola e no Dorival Caymmi também! Ia me esquecendo Ângela Maria e Tito Madi.

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Geraldo Pereira é jornalista especializado em história política e sindical do Brasil, atuando por mais de 60 anos nos principais veículos de comunicação do país, ex-presidente do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e colaborador da Tribuna da Imprensa Sindical.