REDAÇÃO -
No estado onde operações policiais levam a 16 mortes em média por semana, o governador eleito trata execuções sumárias como estratégia de segurança pública. Moradores de uma das comunidades mais violentas estão céticos.
Quando começaram os tiros, Sandra* não pensou duas vezes: pegou o filho e se trancou no quarto, no andar de cima da casa. Ela não havia feito nada –muito menos a criança, de apenas três anos. Mas tinha medo mesmo assim.
“Fiquei com medo de um policial entrar e eu ser pega desprevenida com meu filho. Pensei que, se alguém arrombasse a porta da entrada, com a porta do quarto trancada, eu teria tempo de avisar que havia criança lá dentro.”
Era madrugada de quarta-feira (7), e a polícia havia acabado de iniciar uma operação no bairro da Maré, que reúne 17 favelas habitadas por 130 mil moradores, na zona norte do Rio de Janeiro. (…)
Outras oito pessoas foram atingidas, como o cantor MC Rodson. Ele tinha saído para passear com o cachorro quando foi baleado no tórax. Após passar por cirurgia, seu estado de saúde foi estabilizado. Uma de suas músicas mais famosas pede paz na comunidade e defende que a favela seja lugar de “alegria para crianças”.
Do quarto de sua casa num beco próximo a uma biblioteca popular, Sandra, que é teóloga e educadora, só ouvia os tiros. “É uma sensação muito ruim, de indignação, confinamento, insegurança”, diz a mãe, de 35 anos.
O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, tem defendido posições polêmicas no combate ao crime organizado. Ele já afirmou, por exemplo, que não faltariam lugares para alocar criminosos no estado. “Cova a gente cava, e presídio, se precisar, a gente bota navio em alto mar”, disse durante a campanha.
Após a vitória eleitoral, ele não moderou o discurso e declarou que treinaria snipers (atiradores de elite) para “abater” criminosos com fuzil. “A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Para não ter erro”, disse, posteriormente, em entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo”. (…)
Fonte: Deutsche-Welle Brasil