25.10.18

UM CANDIDATO SEM PROPOSTA EM PLENA CRISE DE DESEMPREGO

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


É extremamente difícil examinar as propostas políticas de Jair Bolsonaro. A rigor não existem. O que existe são declarações fragmentadas com o único intuito de agradar a extrema direita e fustigar os progressistas. Veja-se o anúncio, como se já estivesse eleito, de que privatizará todas, absolutamente todas as participações do Estado em empresas, no montante estimado por Paulo Guedes, seu economista, em 800 bilhões de dólares. Insista-se que não se trata de proposta. É anúncio por parte de quem está convencido de que já ganhou as eleições.

Não é do meu feitio fazer ataques pessoais. Mas Paulo Guedes, o guru econômico de Bolsonaro, fez uma proposta idiota. Se o Estado vende, no prazo anunciado de um ano, todos os seus ativos no montante de 800 bilhões de dólares, o que ele vai fazer com o dinheiro recebido? Vai construir estatais novas? Vai gastar com o pagamento do funcionalismo? É claro que isso contrariaria os objetivos privatistas do economista e de Bolsonaro. Normalmente ele poderia doar o dinheiro aos bancos, mas isso excederia o aceitável pela sociedade, sendo que de qualquer modo o dinheiro retornaria ao Estado como aplicação na dívida pública.

Na cabeça dele está, curiosamente, o projeto de pagar a dívida pública. Contudo, isso não é tão simples. Se o Estado resolve pagar a dívida pública, os titulares dessa dívida ficarão bastante desconfortáveis. Onde aplicarão o dinheiro recebido, a não ser na própria dívida pública reconstituída? O Estado teria de emitir mais dívida pública para absorver os 800 bilhões colocados nas mãos do setor privado. No frigir dos ovos, o resultado da privatização terá sido simplesmente perder os ativos públicos e fazer a dívida mudar de mãos sem sair do lugar.

Estou falando dos aspectos financeiros absurdos dessa operação anunciada com tremenda audácia, mas o que importa, no fundo, é a violência contra a soberania nacional nela embutida. Privatização de empresas como Petrobrás, Eletrobrás e Nuclebrás é crime de lesa-pátria. Expõe o país, gratuitamente, ao estrangulamento pelo setor privado de áreas vitais para a produção e o consumo internos. Bolsonaro trata tudo isso com tremendo cinismo. Como um típico falastrão, expõe suas opiniões desconectadas sem compromisso com a razão.

Mas o grau de sanidade dele pode ser melhor aferido pelo anúncio que faz de introdução do ensino à distância para crianças do ensino fundamental. Seria mais uma concessão neoliberal ao setor privado, que tomaria conta dessa área. Os pais que se virassem para manter os filhos em casa e não na escola. Mas isso não é tudo.

Bolsonaro proclama com todas as letras que o ensino fundamental à distância “economizaria” gastos com merendeiras. Isso mesmo. Não há nenhum sinal de solidariedade humana numa proposta como essa. Pura crueldade. As merendeiras teriam de se virar para buscar outros empregos a fim de abrir espaço para os tubarões do ensino privado.

Não vou perder mais tempo com as patacoadas de Bolsonaro e de seu guru econômico. Interessam-me, sobretudo, os compromissos de Haddad. Eles estão centrados na idéia da expansão do emprego para liquidar com a chaga nacional do desemprego produzida sobretudo pelo governo Temer. Diante dessa tragédia sem paralelo em nossa História, com o índice de desemprego e subemprego atingindo os 27%, Haddad tem condições de oferecer aos desempregados a perspectiva do desemprego zero, ou do pleno emprego, onde todos os aptos e dispostos a trabalhar encontrarão trabalho remunerado no setor público ou privado.

Para aqueles que o acompanham na corrida presidencial, este deverá ser o compromisso fundamental da política econômica. Nada menos que desemprego zero. E não é de graça. Foi o desemprego e o subemprego que desgastaram de tal forma o sistema político brasileiro que grandes massas da população acabaram votando, na forma de um protesto, num candidato absolutamente incompetente para tratar dos problemas econômicos e sociais brasileiros, inclusive do desemprego. Agora é a vez do voto responsável. Do voto que desenhará nosso futuro como sociedade solidária e fraterna, desenvolvimentista, nacionalista e protetora dos pobres.