25.10.18

POESIA - CONVERSANDO COM AS NOVAS GERAÇÕES

MARCELO MÁRIO DE MELO - Imagem relacionada
Podemos conversar
de igual para igual
sobre as lutas
do tempo em que vivemos
mas muito pouco temos a ensinar
pois fomos fragorosamente derrotados
trilhamos muitas desleituras
e o que de bom fizemos lá atrás
não se repete mais.
Fomos ousados no combate sim
o que não é privilégio ou exceção
pois seja qual for a conjuntura
sempre há os que regam
a resistência.

Tentamos inflamar os ares
iluminar as ruas
libertar o canto
repartir o pão.
Fomos combatentes
e não modelos impecáveis
a serem imitados
e incensados
em altares.
Em algum tempo
seremos puro pó
relatos em alguns livros
pouco lidos
ou peças de arquivo
em deslembrança.
Quanto a essa questão
de geração
no antigamente
de ontem
nós fomos vocês
e vocês serão
nós agora
no antigamente
de amanhã.
Dos nossos erros
o maior
foi travar uma guerra
sem soldados
em voos
de planta sem raiz
passando
o comandante
a francoatirador
sob o olhar
da multidão alheia.
Nos novos tempos
tudo é muito diferente
e tudo tão igual
a antigamente!
A terra
o teto
a renda
a farda
a mídia
o culto
a trama
o eufemismo
o simulacro
o descompasso
o descaminho.
Velhas mazelas
velhos anseios
e velhos donos
dominando
a vida
em leque.
Velhos e novos
desafios renitentes
pedindo
nossos olhos
nas estrelas
os pés na terra
e linhas fortes
na costura
dos retalhos.
Ante as mazelas
e os sonhos paralelos
vamos em frente
nas jornadas
novos e velhos
companheiros
de mãos dadas.
*Marcelo Mário Melo, é poeta, escritor, jornalista, intelectual pernambucano, ativista político. Nasceu em Caruaru, foi para o Recife com nove anos de idade. Integrou-se ao PCB aos 17 anos, foi fundador do PCBR em 1968, atuou na clandestinidade, teve a prisão preventiva decretada em 1970, foi preso político em Pernambuco de março de 1971 a abril de 1979. Filiou-se ao PT em 1980, desfiliou-se em 1990 e reintegrou-se em 1994, sem ter se ligado a nenhum outro partido no intervalo, “o que equivale a um segundo casamento com a mesma mulher”, como ele mesmo costuma dizer. Escreve principalmente poemas, histórias infantis, mini-contos e textos de humor.