Podemos conversar
de igual para igual
sobre as lutas
do tempo em que vivemos
mas muito pouco temos a ensinar
pois fomos fragorosamente derrotados
trilhamos muitas desleituras
e o que de bom fizemos lá atrás
não se repete mais.
de igual para igual
sobre as lutas
do tempo em que vivemos
mas muito pouco temos a ensinar
pois fomos fragorosamente derrotados
trilhamos muitas desleituras
e o que de bom fizemos lá atrás
não se repete mais.
Fomos ousados no combate sim
o que não é privilégio ou exceção
pois seja qual for a conjuntura
sempre há os que regam
a resistência.
o que não é privilégio ou exceção
pois seja qual for a conjuntura
sempre há os que regam
a resistência.
Tentamos inflamar os ares
iluminar as ruas
libertar o canto
repartir o pão.
iluminar as ruas
libertar o canto
repartir o pão.
Fomos combatentes
e não modelos impecáveis
a serem imitados
e incensados
em altares.
e não modelos impecáveis
a serem imitados
e incensados
em altares.
Em algum tempo
seremos puro pó
relatos em alguns livros
pouco lidos
ou peças de arquivo
em deslembrança.
seremos puro pó
relatos em alguns livros
pouco lidos
ou peças de arquivo
em deslembrança.
Quanto a essa questão
de geração
no antigamente
de ontem
nós fomos vocês
e vocês serão
nós agora
no antigamente
de amanhã.
de geração
no antigamente
de ontem
nós fomos vocês
e vocês serão
nós agora
no antigamente
de amanhã.
Dos nossos erros
o maior
foi travar uma guerra
sem soldados
em voos
de planta sem raiz
passando
o comandante
a francoatirador
sob o olhar
da multidão alheia.
o maior
foi travar uma guerra
sem soldados
em voos
de planta sem raiz
passando
o comandante
a francoatirador
sob o olhar
da multidão alheia.
Nos novos tempos
tudo é muito diferente
e tudo tão igual
a antigamente!
tudo é muito diferente
e tudo tão igual
a antigamente!
A terra
o teto
a renda
a farda
a mídia
o culto
a trama
o eufemismo
o simulacro
o descompasso
o descaminho.
o teto
a renda
a farda
a mídia
o culto
a trama
o eufemismo
o simulacro
o descompasso
o descaminho.
Velhas mazelas
velhos anseios
e velhos donos
dominando
a vida
em leque.
velhos anseios
e velhos donos
dominando
a vida
em leque.
Velhos e novos
desafios renitentes
pedindo
nossos olhos
nas estrelas
os pés na terra
e linhas fortes
na costura
dos retalhos.
desafios renitentes
pedindo
nossos olhos
nas estrelas
os pés na terra
e linhas fortes
na costura
dos retalhos.
Ante as mazelas
e os sonhos paralelos
vamos em frente
nas jornadas
novos e velhos
companheiros
de mãos dadas.
*Marcelo Mário Melo, é poeta, escritor, jornalista, intelectual pernambucano, ativista político. Nasceu em Caruaru, foi para o Recife com nove anos de idade. Integrou-se ao PCB aos 17 anos, foi fundador do PCBR em 1968, atuou na clandestinidade, teve a prisão preventiva decretada em 1970, foi preso político em Pernambuco de março de 1971 a abril de 1979. Filiou-se ao PT em 1980, desfiliou-se em 1990 e reintegrou-se em 1994, sem ter se ligado a nenhum outro partido no intervalo, “o que equivale a um segundo casamento com a mesma mulher”, como ele mesmo costuma dizer. Escreve principalmente poemas, histórias infantis, mini-contos e textos de humor.