26.10.18

A INDIFERENÇA DE BOLSONARO AO DESEMPREGO DA LAVA JATO

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


A campanha de Jair Bolsonaro é um repositório de mentiras. Cito uma que ouvi ontem: a de que o escândalo do petrolão deu ao país prejuízo de 47 bilhões de reais. É evidente que esse escândalo gerou prejuízos para o país. Mas por que exagerar nos números? Pelo que foi apurado pela Lava Jato com suas delações premiadas e acordos de leniência os prejuízos não chegaram a 1,5 bilhão de reais, se desconsiderarmos multas, que não são propriamente prejuízos para a Petrobrás mas para os empresários punidos.

Digo isso não para negar a evidência do escândalo mas para acentuar que não é necessário mentir para apontá-lo como uma verdadeira desgraça para o país. Porém, quando se aumentam os números artificialmente, perde-se credibilidade. É puro oportunismo. É uma forma de empulhar a opinião pública com grandes números para apontar culpados. Não é preciso fazer isso para apoiar a Lava Jato. Ela cumpriu sua missão. Seu trabalho foi excepcional. Mas o prejuízo alegado por Bolsonaro nunca existiu. É pura mentira.

Os que acompanharam meus artigos sobre esse assunto sabem que não morro de amores por tudo que representou a Lava Jato. Não porque ela não tenha combatido a corrupção. Mas por causa de seus desvios, sobretudo a estupidez de ter praticamente fechado grandes empresas no suposto combate à corrupção. Empresa é uma coisa. Empresário é outra. Empresa, pessoa jurídica, não tem culpa pela corrupção. Quem tem culpa é o empresário. Então, quando se apanha alguém roubando, deve-se punir o empresário, não a empresa.

Quando, por um ato de estupidez que só tem existido no Brasil, os promotores e juízes da Lava Jato estabelecem um verdadeiro cerco às empresas, aparentemente para nada tirar delas além de dinheiro sob forma de multas, centenas de milhares de pessoas acabam sendo demitidas delas para desgraça de outras centenas de milhares de famílias dependentes. Note que empresa não é um ente isolado. Ela tem uma rede de fornecedores, outra de consumidores, outra de credores e devedores. Tudo é afetado por uma investigação inepta.

Combati esses critérios da Lava Jato desde a eclosão do escândalo. Em janeiro de 2015 propus ao então presidente do Clube de Engenharia, Francis Boghosian, promover um seminário cuja tese central era justamente essa: quando for o caso, puna o empresário corrupto, não a empresa. O empresário pode ser afastado da direção da empresa, julgado e condenado. Mas a empresa pode perfeitamente continuar funcionando sob nova direção. Isso preserva centenas de milhares de postos de trabalho.

Será que terá ocorrido a Jair Bolsonaro, quando faz elogios gritantes à Lava Jato, o estrago que ela fez no campo do emprego, sobretudo no Estado do Rio de Janeiro e em Pernambuco? Pelo estilo dele essa reflexão jamais ocorreu. Aliás, em sua campanha, não há menções consistentes à geração de emprego. Tudo é pura demagogia, algo de que se fala porque o adversário também falou. Bolsonaro não sabe que o desemprego e o subemprego é a pior praga no Brasil contemporâneo, herdada de três anos de recessão do governo Temer, que ele quer preservar e aprofundar.

A mentira tem perna curta. A mentira de Bolsonaro tem perna curtíssima. Eu não vou perder tempo com outras inconsistências dele porque esse único exemplo é suficiente para que pessoas de boa fé tomem consciência da forma como Bolsonaro contorna a verdade. Imagine se esse homem torna-se presidente da República? Será um governo da falácia. Aliás, seu anunciado ministro da Fazenda, Paulo Guedes, é um neoliberal radical que tem o projeto de vender o Brasil por 800 bilhões, aparentemente para dar o dinheiro a amigos banqueiros.

*Jornalista, economista político, doutor em Engenharia de Produção, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política brasileira e mundial