JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Recente manchete do jornal El País sobre violência na periferia da cidade afirma: “PM confunde guarda-chuva com fuzil e mata garçom no Rio”. A explicação vem por parte de Flávio Bolsonaro, filho do candidato a Presidente Jair Bolsonaro, e ele próprio candidato ao Senado pelo Rio: “Um elemento negro, andando perto de uma favela, com um guarda-chuva na mão. Queria o quê? Correu o risco. A culpa não é da polícia.”
Há fatores de estupidez no discurso de Flávio Bolsonaro, certamente exacerbados pela influência genética do pai, mas nesse caso houve um excesso: o Rio de Janeiro é majoritariamente negro ou pardo, e não há qualquer lógica segundo a qual um candidato majoritário, como é o caso de um candidato a senador, possa obter a simpatia da maioria do eleitorado. Não obstante, ele parece estar na frente na corrida senatorial.
Será resultado do ódio do branco a negro e pardo, ao ponto de justificar o assassinato frio de um negro porque estava andando de guarda-chuva? Ou é a idéia ainda mais absurda de que negro e pardo é uma subespécie da qual não se reconhecem direitos humanos? Ou se trata finalmente da hipótese ainda mais absurda de que negro e pardo reconhecem uma superioridade inata do branco, e portanto tendem a votar nele por sua competência, como argumentaria o neoliberal Paulo Guedes, assessor econômico de Bolsonaro pai?
Não arrisco um palpite, mas desafio os negros e pardos a fazerem uma reflexão a respeito desse tema. Uma vitória de Flávio Bolsonaro para o Senado no Rio é um tapa na cara de todos os que, brancos ou negros, lutam por direitos iguais no país. Se fosse o caso de não haver alternativas – como, para os radicais, parece não haver alternativa para Presidente -, ainda se justificaria o voto a Flávio. Entretanto, para os pobres, votar nele é um suicídio político, e não obstante há alternativas.
Não sou do PT, mas considero Lindbergh Farias um excelente e batalhador candidato ao Senado Federal. Não sou do Psol, e acho Chico Alencar um candidato excelente para uma das vagas senatoriais. É estranho que, com essas opções, os negros e pardos do Rio se associem à maioria preconceituosa branca para elegerem para o Senado uma afigura que, entre outros predicados, se destaca pela bossalidade de origem familiar e a agressão aos pobres, que são maioria entre negros e pardos.
Tenho me omitido da discussão sobre a disputa presidencial porque, até o momento, vejo os concorrentes prisioneiros de uma temática pequena e circunstancial. Em outras palavras, como escrevi antes, há uma ausência da Grande Política nesse debate. Sinceramente, não vou discutir sobre criação de creches ou questões de gênero. Isso não é da órbita presidencial. É diferente a situação no campo da disputa do Senado.Aqui há candidatos que tem o que falar e o que se propõem a fazer, à margem dos bolsonaristas sem propostas.
Chico Alencar tem uma visão correta e bem focada sobre os problemas sociais do Estado do Rio, principalmente da educação. Lindbgergh tem uma visão profunda, regional e nacional, das questões econômicas. Naturalmente que, descontando outros desqualificados, como os oportunistas como César Maia e Miro Teixeira, infiltrados na disputa, o Rio está muito bem servido de candidatos senatoriais. Não precisa de um candidato a bandoleiro de faroeste para justificar da tribuna do Senado da República a matança de negros e pardos.