27.9.18

DO TRONCO DE EDUARDO CUNHA NÃO PODE VIR GALHO QUE PRESTE

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Há um fetiche em circulação nas atuais eleições pelo qual a juventude do candidato é apresentada como valor político absoluto. Embora, desde Jesus de Nazaré, saibamos que pecado não passa de pai para filho, o fato é que os jovens não raro trazem dos pais a marca de Caim. Como de um tronco tão podre quanto o de Eduardo Cunha pode sair galhos saudáveis, se é indiscutível a influência que ele exerce sobre a família e sobre a filha?

Grandes bandidos da política do Rio estão usando seus filhos mais jovens para conquistar mandatos políticos. Acaso alguém poderia supor que, por trás dessas candidaturas, haja genuíno espírito público? E numa época de reconhecida escassez de recursos, de onde vem o dinheiro para a campanha milionária dos filhos? Fica evidente, logo à primeira vista, que estamos num caso explícito de corrupção da juventude.

Não é raro que as candidaturas de filhos venham associadas com candidaturas evangélicas. É o caso, mais uma vez, de Eduardo Cunha. Contudo a prática é antiga e associada ao coronelismo nordestino. Está sendo apenas copiada e atualizada. Contudo, prefiro os velhos clãs como os de Sarney e de Antônio Carlos Magalhães ao clã abertamente corrupto de Cunha que chefia desde a cadeia a ascensão política da filha.

Entretanto não sei como impedir esse processo fraudulento da vontade do povo sem ferir a democracia. Aliás, os grandes demagogos s ão os primeiros a usar as brechas da democracia para violá-la. A única solução é a denúncia. Mas a denúncia em termos limitados, como os da internet, não tem o impacto necessário para abortar o nepotismo. E a grande imprensa, em geral cúmplice dos bandidos políticos, não aborda o assunto.

Fica a advertência, portanto. Em lugar de olhar a idade – pois há também jovens bem intencionados entrando na política -, olhe o prontuário do pai ou da mãe. Uma grande safra de jovens idealistas na política seria bem vinda no Brasil para limpar as cavalariças do rei. Quanto aos oportunistas e vigaristas, pais e filhos, vamos apontá-los à opinião pública pelo crime de demagogia. É que nada de bom pode vir de um Eduardo Cunha ou de um Roberto Jefferson.