ROGER MCNAUGHT -
Aos que não acreditam na ressocialização após a entrada no
sistema carcerário, é melhor reverem seus conceitos. O grupo “Kriadaki”, composto por ex-detentos
é um exemplo perfeito de ressocialização com cultura e com opinião crítica, sem
perder o foco no trabalho em artes cênicas.
Fundado em 2008 por detentos de uma unidade prisional de
segurança máxima – que buscavam um novo começo – o “Grupo Teatral Kriadaki” é
um dos frutos do projeto “Teatro na Prisão” da UNIRIO que vem atuando no
sistema prisional desde 1997. A universidade em questão ainda disponibiliza um
espaço para ensaios e a continuidade do projeto que conta atualmente com
egressos do sistema prisional que se encontram na luta diária para sua
sobrevivência digna e ainda encontram tempo para, por meio da arte, estimular
questionamentos importantes nas mais diversas plateias.
Na esquete apresentada em um dos auditórios da universidade
ficou clara a crítica ao constante clima de violência, criminalização da
pobreza, preconceito aos ex-detentos e mortes constantes nas regiões pobres das
cidades, algo que infelizmente vem se naturalizando quando deveria de fato ser
alvo de intensa mobilização da sociedade civil organizada. Em um dos diálogos apresentados, a contínua
morte de crianças devido à guerra urbana foi abordada e isso em um momento em
que mais uma criança faleceu em decorrência de disparos em áreas residenciais
da periferia do Rio de janeiro.
Em entrevista (vídeo), os atores que apresentaram a esquete
falam um pouco de suas histórias e de como o teatro os trouxe para a liberdade
da arte e como esta fórmula pode ser aplicada de forma contínua para reintegrar
com sucesso mais e mais ex-detentos ao convívio social produtivo.
Outro ponto bem controverso e necessário que foi apontado
durante as entrevistas é a falta de acesso à cultura e educação nas regiões
periféricas. Um dos integrantes
inclusive menciona o fato de o grupo “Kriadaki” ir se apresentar em locais onde
o teatro “convencional” e outras formas de cultura não vão, democratizando o
acesso e a produção de conteúdo cultural.
O grupo mantém suas atividades, figurino e outros custos por
meio de doações e obviamente, por meio do tradicionalíssimo “chapéu” ao fim das
apresentações. Se cada um de nós puder
ajudar, o lucro será de toda a sociedade.