ANDRÉ BARROS -
O grande jornalista carioca e do mundo Matias Maximiliano, que marcou sua brilhante trajetória cobrindo as Marchas da Maconha e as Manifestações de 2013, com fotos, filmes e textos de uma realidade impressionante, marcados pela coragem de quem registrou os fatos de dentro, dirigiu o documentário de curta-metragem “ A vitória não virá por acidente”.
Em apenas 5 minutos, contextualizou historicamente a importância política da prisão em 1997 do Planet Hemp em Brasília e a luta da banda pela liberdade, pela legalização da maconha e contra o Estado policial. Na voz marcante de Raoni MouChoque, o curta mostrou a importância da luta da banda pela legalização da planta e o movimento mundial da Marcha da Maconha, que chegou ao Brasil em 2002, tendo sido registrada no filme a histórica convocação para o evento por meio da distribuição de papel de seda em Ipanema.
O documentário recordou trecho do voto do Ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, em que cita o Planet Hemp no julgamento da Marcha da Maconha. Tenho a honra de ter assinado, com o advogado Gerardo Santiago e o vereador do Rio de Janeiro Renato Cinco, a representação que gerou a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 187 desse julgamento histórico, que garantiu as Marchas da Maconha em todo o Brasil.
O curta percorre as imagens da violência policial contra a Marcha da Maconha de São Paulo em 2011. E mostra a faixa do Growroom que ajudei a confeccionar com William Lantelme, outra figura importantíssima na luta pela legalização da maconha no Brasil e no mundo, com os dizeres: “STF, julgue a nossa causa: ADPF 187 e ADI 4274”. A ação foi colada em pauta 15 dias depois da violência policial contra a Marcha da Maconha de São Paulo. Podemos então dizer que foi a Marcha da Maconha de São Paulo que pautou o julgamento de 15 de julho de 2011 no Supremo Tribunal Federal.
O curta começa em 1997, apresenta a foto do índio Galdino da nação Pataxó-hã hã hãe, queimado vivo naquele ano quando dormia em abrigo de ponto de ônibus na Asa Sul de Brasília, perto da FUNAI. Atuei na luta pela condenação dos 5 assassinos, jovens ricos e de classe média, e estava no julgamento ao lado dos índios, quando eles foram condenados pelo Tribunal do Júri.
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Fui a Brasília em 1996, atrás da minha companheira Marta Bonimond, passar uma semana e fiquei 9 anos maravilhosos. Em 1997, era delegado da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Distrito Federal e o curta me fez lembrar uma passagem curiosa. Fomos chamados ao presídio onde estavam os músicos do Planet Hemp, porque o delegado não permitira a entrada de som na cela. Conversamos primeiro com a banda que, mesmo com todo o apoio externo, estava muito preocupada com aquela prisão. Parecia que poderiam ficar muito tempo naquele inferno e estavam angustiados, impedidos até de ouvir um som. O grupo já estava com advogado e a missão da OAB era impedir qualquer tratamento degradante e colocar o som na cela da banda.
Tivemos uma reunião com o delegado, que logo veio dizendo que era impossível permitir a entrada de aparelho de som, pois sua cadeia, como chamava, iria virar uma boate, já que todos os presos poderiam pleitear o mesmo direito. Mesmo registrando que os presos em geral devem ter o direito a ouvir música e de assistir televisão, argumentamos que era um situação excepcional de uma banda de música e de presos provisórios. Depois de muitos argumentos e pedido da Comissão de Direitos Humanos em missão oficial, o delegado concordou com a entrada do som.
Levamos aquele pequeno alento à banda, que ficou satisfeita em poder ao menos ouvir um som dentro daquela cadeia infernal na capital federal.
A luta pela legalização da maconha avançou muito até 2017, como retratou o documentário. E promete ainda mais em 2018, começando no início do ano com o lançamento do filme “Legalize Já” sobre a história do Planet Hemp e o livro sobre a biografia do grupo de autoria do jornalista e escritor Pedro de Luna, que será lançado no “Maio Verde”, mês das Marchas da Maconha no Brasil e no mundo pelo Planeta da Maconha.